Zelo: “Empenho solícito em procurar o bem próprio ou alheio. Cuidado, interesse, desvelo.”

É uma beata. Rata de sacristia, é o que ela é. Sempre à volta do padre e vai à missa todos os dias. Todos. Já viste como canta? Voz de cana rachada, músicas tão bonitas ficam estragadas naquele arrastar desafinado.

E lá está ela, no segundo banco da igreja. O primeiro fica sempre vazio, claro. As beatas sentam-se no segundo. Separadas, normalmente.

Ah! Como é possível andar sempre na paróquia? Parece que não tem mais o que fazer. Certamente, não deve ter mais o que fazer. É uma beata. Está reformada e apenas tem de tratar da casa, das refeições e dos netos (só à tarde). Já viste como nos diz bom dia? E nem quero pensar no que dirá de nós. Pronto, acha-se a dona da paróquia. Controla as velas acesas, controla os sacos do peditório, controla as flores a Nossa Senhora, controla se o lecionário está no lugar, se a luz do sacrário não se apaga.

É uma espécie de “ASAE paroquial”, é mesmo. Uma beata. Tudo passa por ela. Mesmo que não se lhe peça. Será que alguém lhe pediu que fizesse tudo isso?

E eu? Eu não, não vou à missa durante a semana. Como poderia, se muitas vezes nem tenho tempo para ir à missa ao domingo?

A igreja está bonita, sim, mas não deve dar trabalho nenhum. É preciso limpar? É preciso tratar das flores? Substituir velas já queimadas? Ter os livros no ambão? (Por certo, o que é o ambão?) Abrir e fechar a igreja? Ver se ninguém se esqueceu de nada? Apagar as luzes?

Orientar aqueles que aqui vêm pela primeira vez? Selecionar e encaminhar os donativos em roupa e espécie que deixam à porta da igreja?

Tanta coisa. E ainda há mais? E quem o faz? A beata.

A zeladora, a voz de cana rachada e de coração inteiro. Sem o seu empenho solícito, sem a sua dedicação, sem o cuidado que provavelmente ninguém pediu, mas que exige um tempo precioso que ela dá com generosidade, sem ela, dizia, a igreja (a nossa igreja) não poderia ser, como tem de ser, uma casa de todos.

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