Ricardo Zózimo
A organização da Igreja Católica em paróquias, pequenas unidades territoriais que existem para fortalecer socialmente as suas populações, pode ser vista como antiquada e estanque num cenário onde a mobilidade de pessoas e bens é hoje uma certeza. No entanto, esta capilaridade, e a possibilidade real que a Igreja tem de chegar a todos os cantos do mundo de uma forma consistente e autónoma, é vista aqui como uma força potencial de mudança no mundo.
Já em 2017, o Papa Francisco afirmava que “As Paróquias têm que estar em contacto com os lares, com a vida das pessoas, com a vida do povo. Têm que ser casas em que a porta esteja sempre aberta para sair para os outros”.
No entanto, a função das paróquias está a mudar significativamente. Fruto de uma relação entre a Igreja e sociedade sempre em evolução, está hoje a ser pedido às paróquias que acrescentem outras valências à sua vincada função social. Por exemplo, à boleia da Laudato Si’ − a encíclica escrita pelo Papa Francisco sobre a responsabilidade do cuidado da casa comum e a intersecção entre a ecologia e a espiritualidade − levantam-se inúmeras possibilidades de liderança ambiental para as paróquias.
A primeira tem a ver com o incluir o ambiente e as decisões ambientais no centro das suas decisões de carácter social. Depois, e tal como as paróquias defendem socialmente os seus membros, este virar ambiental preconizado na Laudato Si’ foca a atenção dos párocos em defender ambientalmente as suas regiões. Isto significa, por exemplo, que as paróquias deveriam conhecer ambientalmente a sua região, perceber como os ciclos ambientais se relacionam com os ciclos sociais, organizar atividades de cariz ambiental e desenvolver um plano alargado de desenvolvimento ambiental com vista à melhoria das condições ecológicas da paróquia.
Penso que aqui, o grande desafio que emerge da Laudato Si’ é compreender a nível paroquial o seu espaço de ação. Para tal é fundamental pensar de uma forma complementar. Que papel de liderança podem ter as paróquias de modo a que se constituam como um espaço de ação cívica e política? A Laudato Si’ dá pistas interessantes. As paróquias podem ser espaços de aprendizagem acelerada entre pares para questões de mudança de estilo de vida, para a integração da natureza na espiritualidade e para o desenvolvimento de soluções inovadoras que possam depois ser replicadas noutros locais.
A evolução ao nível paroquial é também expressa na Fratelli Tutti, a mais recente encíclica do Papa Francisco. Aqui o Papa alerta para a interdependência dos sistemas sociais, ambientais e económicos. O desenvolvimento social de cada ser humano depende da forma como a sociedade lhe permite desenvolver esta intersecção dos três sistemas de forma equilibrada. Neste caso, o papel da paróquia é constituir-se como ponto de intersecção, que, através da ajuda entre paroquianos, permita incluir mais que excluir e dar mais que receber. O Papa Francisco fala na Fratelli Tutti do papel dos vizinhos – e uso de propósito a expressão papel nas suas vertentes económica, ambiental e social. O papel dos vizinhos é fazer com que todos vivam uma vida digna e próspera, ambientalmente responsável e socialmente ativa.
Fazer das unidades paroquiais centros de desenvolvimento sustentável que assegurem este equilíbrio económico, ambiental e social é seguramente um dos pilares do futuro das paróquias. Tenho a certeza de que as palavras e o encorajamento do Papa Francisco serão centrais nos processos de liderança dos próximos anos a nível paroquial.
Foto da capa: Companhia de Dança Martha Graham, no Festival de Dança de Skopje 2022, República da Macedónia do Norte, 20 abril 2022. Foto EPA/GEORGI LICOVSKI

Ricardo Zózimo
Professor Auxiliar de Gestão na Nova SBE, a sua atividade académica, tanto em sala de aula como em investigação, foca-se em compreender como as organizações criam e gerem a ligação com objetivos de desenvolvimento sustentável (ou SDGs). Adotando uma perspetiva de aprendizagem empreendedora, estuda em particular os processos chave associados à criação de impacto positivo na sociedade na gestão de negócios lucrativos.
Anteriormente, foi professor e investigador na Lancaster University, onde recebeu pela primeira vez o prémio de Outstanding Contribution to Student Experience. Trabalhou também no setor público e privado e também em ONGs, em 5 países diferentes. Foi também um mentor ativo de empreendedores sociais e comerciais em todo o mundo.
Ricardo Zózimo tem um Doutoramento (Ph.D.) pela Lancaster University em Empreendedorismo e um Mestrado (M.Sc.) em Planeamento Estratégico pela University College of Dublin
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