Um Menino nasceu para nós (Is 9, 5)

As palavras do profeta que projetam uma luz de esperança sobre o povo que “andava nas trevas”, continuam a ser de grande atualidade para a nossa sociedade, que se debate numa “revolução que investe os nós essenciais da existência humana”.

No momento histórico que vivemos, precisamos não só de novos programas económicos ou de novas vacinas contra a pandemia, mas sobretudo de uma nova perspetiva humanística, baseada sobre a Revelação bíblica, enriquecida pela herança da tradição clássica, bem como das reflexões sobre a pessoa humana presentes em todas as culturas.

O Papa Francisco, numa vídeo-mensagem dirigida ao Pontifício Conselho da Cultura, indicou a necessidade de a sociedade reencontrar “o sentido e o valor do humano em relação aos desafios que é preciso enfrentar”. Na nossa época, marcada pelo fim das ideologias, parece faltar uma reflexão sobre a pergunta: Que é o homem? Quem é o ser humano? Sim – diz o Papa – hoje está a decorrer uma revolução que exige um esforço criativo do pensamento e da ação. Estão a mudar as modalidades de entender o gerar, o nascer e o morrer. Está posta em causa a especificidade do ser humano no conjunto da criação, a sua unicidade em relação com os outros animais e até a sua relação com as máquinas. É altura de repensar o ser humano à luz da tradição humanística: “como servidor da vida e não como patrão, como construtor do bem comum com os valores da solidariedade e da compaixão”.

O mistério do Natal, do Deus-connosco, propõe-nos um olhar “despido” sobre o sentido da realidade humana: o olhar dos simples e dos pobres, que vai direto ao essencial. Para enfrentar os muitos e complicados problemas que afetam a nossa sociedade, é preciso, em primeiro lugar, olhar e contemplar e, depois, acolher e agir.

O Menino que “nasceu para nós…” é a nossa frágil humanidade, que precisa de amor e cuidado, de paciência e de misericórdia. É o dom mais belo, que pode tornar-se ainda mais belo, na medida em que poderá desenvolver todas as suas potencialidades em sintonia com a criação.

O Menino que nasceu para nós é um “Filho que nos foi dado”, uma criatura que faz parte da nossa carne e do nosso sangue: estamos, portanto, irmanados com Ele para sempre. E isso é garantia de vida, de vida abundante, luminosa e eterna.

Santo Natal e um Novo Ano, cheio de luz e de esperança!

Foto da capa: O Natal de Francisco: Giotto projetado na Basílica de Assis para narrar o nascimento de Jesus, instalação multimédia, 08.12.2021 a 10.01.2022. https://www.nataledifrancesco.it/

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