Um Centro contra a COVID-19

As palavras e as obras de Santo António continuam vivas e espalhadas pelos “quatro cantos do mundo”.
Um dos projetos que a Cáritas Antoniana apoia, em Limoeiro, Nordeste do Brasil, tem já dois anos e consiste na construção de um Centro com cantina, escritórios, clínica e serviço de duche. A construção iniciou antes da Covid-19, em cooperação com o Instituto Padre Luigi Cecchin e está prestes a entrar em funcionamento, em plena pandemia, num dos locais mais pobres do Brasil.

“Os casos fatais de Covid-19 não param de crescer: os mais pobres estão a morrer e a sobrevivência dos que vivem nas favelas depende de instituições como a nossa”. O grito vem de Limoeiro, município de 60 mil habitantes no sertão, a 77 Km de Recife, capital de Pernambuco, no Brasil. Foi lançado por Renzo Compostella, presidente da Associação Veneta dos Amigos do Terceiro Setor, que há muitos anos apoia o Instituto Padre Luigi Cecchin de Limoeiro. O trabalho do Instituto centra-se na formação humana, educativa e profissional dos mais jovens, mas é de facto um centro de promoção social para toda a comunidade.

Nos últimos anos, a administração do Centro está a cargo da Congregação de Don Calabria, freiras com um grande coração e uma grande capacidade organizativa.
O projecto foi pensado e desejado em tempos em que nem se imaginava o que estamos a viver agora, mas a situação social já era muito grave.

As pessoas são muito pobres e não têm uma cultura de trabalho, porque têm um passado de escravidão. A exploração dos trabalhadores ainda hoje é normal. Trabalham de forma ilegal, sem documentos e sem direitos, para os senhores da terra, que são de tal modo ricos que nem sabem quantas cabeças de gado possuem.

A saúde é pública, mas só em teoria: “Eu precisei de tratamento no hospital – diz Renzo – e pude vivenciar em primeira pessoa a falta de meios e de higiene. Na verdade, as pessoas não podem ser tratadas sem um seguro privado. Esta pandemia está a matar milhares de pessoas devido às condições de vida, que impossibilitam o distanciamento social, e devido às graves deficiências do sistema de saúde”.

A maioria das famílias não tem estabilidade, são mães solteiras com muitos filhos, em barracas sem condições e sem casa de banho. As pessoas vivem de trabalho precário e pequenos biscates.
Mas Dom Luigi tinha uma visão e era teimoso, contra todas as evidências. “Nos primeiros anos, as ruas de Limoeiro fervilhavam de meninos e meninas de rua, hoje já não é assim. Ele trouxe-os de volta para a escola, ensinou-lhes um ofício, acompanhou-os em todas as fases da vida como se estivessem numa família. Em cinquenta anos de história, o instituto já atendeu mais de 22 500 pessoas. Muitos ex-meninos de rua hoje têm família, pequenos negócios e estão a criar uma nova cultura de trabalho”.

O novo Centro da Cáritas está concluído e alguns equipamentos já chegaram, mas inda não foi possível inaugurá-lo: a emergência, hoje, é encontrar alimentos para que as famílias possam sobreviver. Quando for inaugurado, será uma festa poder servir refeições quentes e providenciar roupas, alimentação e cuidados de saúde.

No meio do inferno, já existe um “além” que aguarda Limoeiro e o seu povo. E nesse “além” também estamos nós, a Cáritas de Santo António. Com a Pandemia entendemos “por dentro” o que significa esperar por um novo dia.

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