Apresentado em 1616 — na passagem entre dois séculos marcados quer por guerras e divisões no seio do Cristianismo e da Europa, quer pela abertura de novas rotas marítimas e civilizacionais — o Tratado do Amor de Deus constitui uma obra maior da tradição cristã, que alimentará a formação espiritual de gerações de religiosos e leigos praticamente até meados do século XX. A sua disponibilização ao público constitui uma oportunidade a registar.
Pastor, bispo e guia espiritual, Francisco de Sales apresenta-nos um caminho longo, meditativo e profundo (embora dividido em breves capítulos, para uma leitura ritmada ao longo dos dias) em torno à realidade do amor que, mais do que um breve sentimento ou afeto, envolve toda a experiência humana. O autor percorre a vontade e o entendimento, a oração e a contemplação, as paixões e a caridade, a ternura e a complacência. Na raiz está o desejo de apresentar o rosto e o projeto de Deus na sua verdadeira natureza de amor, numa época (não muito diferente da nossa) em que imperava o medo e a angústia da salvação e da condenação. Com o livro bíblico do Cântico dos Cânticos como pano de fundo, o Tratado recorre também a Paulo e a Francisco de Assis, a Agostinho e a Teresa de Ávila, apontando traços biográficos nos quais trespassou a busca de um Amor outro. Ainda que com linguagens e conhecimentos próprios de uma época diferente da nossa, o leitor encontrará nestas páginas uma gramática comum que o conduzirá ao coração da experiência cristã e humana: o amor que, mais do que um exercício ou obrigação moral, é uma presença pessoal, livre e libertadora, capaz de unir os dias e as horas, os pensamentos e sentimentos.
Oh!, ditosos aqueles que, depois de terem discorrido sobre os inumeráveis motivos de amar a Deus, reduzem todos os seus olhares a um só olhar e todos os seus pensamentos a uma só conclusão, fixando o espírito na unidade da contemplação.
Autor: São Francisco de Sales
Edição: Apostolado da Oração
Páginas: 928