A Palavra de Deus
Tomai cuidado, vigiai, pois não sabeis quando chegará esse momento.
Marcos 13, 33-37
É como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, delegou a autoridade nos seus servos, atribuiu a cada um a sua tarefa e ordenou ao porteiro que vigiasse.
Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar o galo, se de manhãzinha; não aconteça que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo a todos: vigiai!
A palavra de Santo António
No momento da morte, há a tribulação da enfermidade; a escuridão nos olhos que serão privados da luz, a dissolução dos membros; a angústia da morte e o medo do demónio que tenta roubar a alma que deixará o seu corpo. Infeliz! Pobre homem! Quer ele levante os olhos para o céu, quer os volte para a terra, não será capaz de escapar da sua angústia sem cair na terra e voltar à terra. Ela caiu, Babilánia, diz Isaías, isto é, a carne do homem e as imagens dos seus deuses, os prazeres dos sentidos, serão quebrados no chão (Is 21, 9), porque “és terra e à terra hás-de voltar” (Gn 3: 19).
“Feliz o servo que quando o mestre vier e bater à porta o encontrar vigilante” (Lc 12,36-37). Bem-aventurado aquele que na hora da sua morte poder cantar como na Missa de hoje: “A ti, Senhor, elevo a minha alma” (Salmos 24: 1).
Ó minha alma, levanta-te da sedução da carne, levanta-te da luxúria do mundo, levanta-te! Levanta-te para as alegrias eternas. No momento da morte, não vacilará aquele que assim elevou sua alma a Deus.
“Meu Deus, em ti confio”. Em ti, não na carne, não no mundo.
A propósito desta confiança diz Isaías “Confias numa cana rachada e ficarás com a mão ferida” (Is 35,6).
A abundância de bens e a saúde do corpo são como a cana, vazia por dentro e bela por fora. O homem que se apoia nela, quebra-se na morte; uma vez quebrado, fere a sua alma e a alma ferida cai no nada.
Aprofundemos
Santo António atribui grande importância ao começo e ao fim da vida terrena que ele chama de limites da vida. O começo é o nascimento e o último limite é a morte. A propósito ele fala do filho de Jacob, que é Isaac, de quem diz: “Ele está nos limites”. E especifica: “Os dois limites são a entrada e saída da vida. Ele está deitado neles, pois no primeiro ele é rebaixado aos seus próprios olhos; no segundo, ele chora sobre si mesmo. O tolo, pelo contrário, não vive dentro dos limites, mas entre os limites… O meio, entre o nascimento e a morte, é a vaidade do mundo; os rebanhos são os movimentos da carne, dos quais ouvimos o assobio, isto é, as gentis carícias”.
Mas o penitente é dado como um exemplo, pois vive nos limites, eleva os olhos da mente e vê que a refeição da glória abençoada é benéfica para a glorificação do corpo e que a terra da imutabilidade eterna é agradável na contemplação da Trindade. E inclina as suas costas ao fardo, isto é, ao jugo da penitência pela qual se controla a si mesmo e às suas tentações.
A lição a ser tirada é aplicar os limites da vida à revelação de Cristo que nos salva nos dois limites da vida que são o seu nascimento e sua morte na cruz. Trata-se de um convite para não sermos complacentes com a vaidade entre os dois limites. Eis a ligação entre António e Francisco de Assis, do qual disse o seu biógrafo: “Dois temas o ocupavam de tal forma que mal conseguia pensar noutra coisa: a humildade manifestada na Encarnação e o amor manifestado na Paixão. António fala dos limites da vida, Francisco fala da Encarnação e da Paixão. Completam-se um ao outro totalmente.