Um artigo de Simone Olianti; Ilustração Elisabetta Benfatto | messaggero di sant’Antonio
Não é o amor, na verdade, que nos assusta.
É a nossa vulnerabilidade, o medo de que, ao nos entregarmos a alguém,
deixemos de ser respeitados e acabemos por sofrer.
É o risco inerente ao amor, que, no entanto, não tem alternativa:
só o amor é capaz de nos libertar de todos os nossos medos.
Estamos cheios de medos até ao pescoço, desde a infância. Os medos começam com o primeiro grito e terminam com o último suspiro. E cada estação da vida tem os seus medos. Todos temos de lidar com a primeira pergunta que Deus faz ao homem no jardim: “Onde estás?”. Uma pergunta que despoja e põe a nu todas as nossas vãs tentativas de nos escondermos perante a vida e o olhar atento e amoroso de quem nos deu a vida. “Estava nu, tive medo, e escondi-me”, responde o primeiro homem.
Cada um de nós é, portanto, chamado a lidar com os seus próprios medos, sem fugir da vida: porque o que mais tememos é o vazio e o absurdo, a insignificância de uma vida que não deixa rasto e se perde no nada. O homem moderno, alguns diriam pós-moderno, tecnológico e hiper conectado, protegido com seguros de todo o tipo na tentativa, afadigada e inútil, de evitar todo o sofrimento, derrotou muitos inimigos exceto o mais subtil e invasivo: o próprio medo, que desde Adão configura a fragilidade da nossa humanidade.
O medo é uma emoção primária; do ponto de vista filogenético, é a mais arcaica e importante das emoções, porque nos alerta para um perigo iminente e, muitas vezes, nos salva a vida.
O medo é uma emoção fundamental perante um perigo real e iminente. Mas quando se baseia em emoções e, sem conexão com a realidade, antecipa perigos imaginários torna-se ansiedade, fobia e angústia.
O medo pode chegar a ser desejado, numa tentativa falaciosa de sentir o pulsar da vida. Aquela vida que, na verdade, só pode pulsar graças ao amor. Não há alegria de viver sem amor; é indispensável, desde o início da vida, sentir-se amado e depois sair de si mesmo e aprender a amar. Os afetos e os sentimentos são a cor e o calor das nossas vidas, mas ao mesmo tempo atemorizam-nos e deixam-nos inseguros, porque desconhecemos a sua linguagem.
Para sermos verdadeiramente felizes, precisamos de educar os nossos corações para a compaixão e o altruísmo, pois a porta da felicidade só se abre para fora e aqueles que tentam forçá-la para dentro fecham-na ainda mais.
Quão grande é o esforço que fazemos para aprender que o amor não é uma flor que brota espontânea, bonita e fugaz no seu esplendor primaveril e logo se desvanece com a primeira chuva! O amor é uma capacidade que se aprende e que requer cuidado, atenção e proteção.
Há um verso muito bonito de um poeta inglês que eu gosto muito, que resume, como só os poetas conseguem fazer, o que eu gostaria de partilhar com os meus leitores: “Frágil é o amor quando o medo é mais forte” (John Donne). O medo de amar paralisa-nos e bloqueia o desejo, que dá cor à vida, e quando o desejo fica bloqueado e anestesiado sofremos e muito.
Na verdade, não me parece que tenhamos medo de amar; do que realmente temos medo é da nossa vulnerabilidade, porque a pessoa que hoje diz que te ama, amanhã poderá magoar-te.
A própria linguagem que utilizamos “Amo-te loucamente; morro de amor por ti!” não faz justiça ao amor. O amor não deixa as pessoas loucas, não mata: o amor faz-nos viver e torna a vida digna de ser vivida. De facto, a nossa vulnerabilidade é a nossa maior riqueza e é por isso que não a entregamos ao primeiro que passa.
e pensarmos bem, quando é que realmente amamos o outro? Quando nos damos a nós mesmos, quando superamos o medo de que o outro nos possa magoar. Nesta época de tristes paixões procuramos o amor como vedores procurando água. Recordo a este propósito as palavras contundentes do profeta Jeremias: “O meu povo cometeu duas maldades: abandonaram-me a mim, fonte de águas vivas, construindo para si mesmos cisternas, cisternas rotas, que não conseguem reter a água” (Jer 2, 13). Abandonar a fonte para beber de uma poça de água pútrida que não sacia a sede nem alimenta. Assim são, quantas vezes, os amores deste tempo incerto e sinistro: hoje, é mais fácil e frequente viver relações fugazes e apaixonadas, possessivas e não libertadoras, e muito mais raro e difícil viver um amor delicado e atencioso.
Perante o outro, precisamos descalçar os sapatos, como fez Moisés diante da sarça ardente, porque o outro é terra sagrada.
Amar requer coragem porque o amor é mais do que um sentimento, é uma capacidade que se aprende ao longo de toda a vida. E, na escola do amor, somos todos aprendizes, não há mestres. Amar é uma arte refinada, que requer um trabalho paciente de artesão: dedicação, humildade, cuidado e coragem. Erich Fromm recorda-nos num dos seus mais belos livros, A Arte de amar: “Amar é essencialmente um ato de vontade. Amar alguém não é apenas um sentimento forte; é uma escolha, uma promessa, um compromisso”.
Se o amor é reduzido a um sentimento, esquecendo o “para sempre”, passa a ser mera mercadoria com prazo de validade. Hoje, é necessário coragem para seguir o caminho do coração que, sem medos, contra modas e condicionamentos, procura o amor que “tem o desejo forte de durar” (Paul Eluard).
O nosso tempo exalta o mito da autossuficiência e da independência: eu basto-me a mim próprio. Mas o amor e o desejo de amar começam precisamente pelo reconhecimento da nossa insuficiência, de que não nos bastamos a nós próprios, mas precisamos do outro para que a vida possa manifestar toda a sua beleza.
“Ai daquele que está só”, diz Qoelet, porque “se cair, não tem ninguém que o levante” (cf. Ecl 4,9-11). O amor tem o poder de elevar a vida da sua insignificância, desde que se opte por permanecer em constante estado de aprendizagem. Amar é aprender a língua do outro, porque o outro fala sempre uma língua estrangeira. Há que fazer um esforço, que dura uma vida inteira, para aprender o alfabeto do outro. Isto vai além do que se sente e experimenta.
Sim, caros amigos, só existimos quando somos amados. Só o amor nos tira do anonimato e quando o outro nos chama pelo nome pela primeira vez, então reconhecemos a voz que nos tira do nada e nos projeta na vida. Só o amor, forte como a morte, é capaz de nos libertar de todos os medos e fazer jorrar a alegria que brota da nascente de água viva que sacia a nossa sede e jamais se esgota.
São João Paulo II, papa
por Maximiliano Patassini
Na homilia do início do seu pontificado (22 de outubro de 1978, data que se tornou a da sua memória litúrgica), expressou um convite que iria repetir muitas vezes ao longo do seu ministério:
Não tenhais medo! Abri, mais, escancarai as portas a Cristo! […] Cristo sabe o que há dentro do homem”. Só ele o sabe! Hoje em dia, muitas vezes, o homem não sabe o que traz dentro de si, nas profundezas da sua alma, do seu coração. […] É permeado pela dúvida que se transforma em desespero. Deixai, portanto – vos peço e vos imploro com humildade e confiança – permiti que Cristo fale ao homem. Pois só ele tem palavras de vida.
Testemunha do amor de Deus, teve a coragem de perdoar àquele que tinha atentado contra sua vida, em 1981: “Falei com ele como se fala a um irmão, a perdoei-lhe e ele goza da minha confiança”.
Nas suas viagens apostólicas tocou todos os continentes; são numerosos os seus discursos e os seus escritos, em que se destaca a atenção à família, ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso, à paz, à proteção e à defesa da vida.
João Paulo II tinha um particular carinho pelos jovens, desde a instituição da JMJ até às palavras pronunciadas pouco antes da sua morte (2 de abril de 2005), sabendo da presença de muitos jovens que vigiavam por ele, na Praça de São Pedro: “Procurei-vos, agora viestes ter comigo; por isso vos agradeço”.