Também se reza com os pés

Também este ano tivemos uma atividade de verão com os jovens. Fomos até Santiago, 120km a pé. 3 frades Portugueses (frei Pedro, frei André e frei Zé Carlos), 5 frades Espanhóis, jovens dos dois países e algumas irmãs Italianas. No total eramos 75 a fazer esta peregrinação. Pedi à Ana Catarina, para nos contar como foi. Aqui está o seu testemunho.


Abracei a oportunidade de peregrinar, a pé, desde Tui a Santiago de Compostela, juntamente com vários jovens franciscanos portugueses e espanhóis. Guiada pelo desejo de me encontrar e de estar em comunhão com o apóstolo São Tiago, vivi a fé numa perspetiva diferente e inesquecível.

Ao inscrever-me, tomei consciência de que estava a lançar-me numa aventura e que não poderia compactar toda a minha vida na mochila.

No final da missa de envio foi-me entregue a credencial do peregrino para, ao longo do percurso, ir sendo preenchida por sellos de igrejas, marcos históricos e até mesmo de cafés e esplanadas!

O primeiro dia a caminhar foi complicado, desafiando a própria condição humana – as dores começaram a aparecer em conjunto com a preocupação de conseguir terminar a etapa. Lembro-me de sentir todo o meu corpo a gritar silenciosamente por socorro a Deus. Nesses momentos, para superar a dor psicológica tentava rezar calmamente, para a dor física usava as “mezinhas” que a minha mãe me tinha enviado.

As orações foram extremamente importantes, pois ajudavam a recarregar energias e a refletir sobre cada passo que dava em direção ao destino; também as catequeses desempenharam um papel fundamental na aprendizagem e crescimento interior. Recordo-me de uma frase que me ajudou a clarificar o significado de ser peregrino: “de onde vens e para onde vais”, o que deixei para trás e o que irei alcançar.

Nas eucaristias, o sentimento de cumplicidade e união entre portugueses e espanhóis ia-se intensificando: fundimo-nos e tornámo-nos num todo que se movia por um mesmo objetivo, por uma mesma fé.

A pedra que apanhei e carreguei durante alguns dias representava os meus pecados, preocupações e receios; mais tarde depositei-a no Santuário de Nuestra Señora de la Esclavitud, ficando mais livre para prosseguir o caminho.

Pensava que ao longo dos dias o cansaço se iria acumular. No entanto, a cada dia que caminhava ia-me sentindo mais leve. As horas de silêncio ajudavam-me a refletir, a observar com mais atenção a natureza e os outros peregrinos que passavam a exclamar “bom caminho”!

Cheguei a Santiago e caí no chão emocionada, chorei e fiquei sem fôlego, não pelo cansaço, mas por ter sido uma experiência gratificante, intensa e cheia de emoção. Senti ter superado cada etapa e de me ter superado a mim própria. Celebrar a missa do peregrino juntamente com pessoas de diferentes nacionalidades é algo que ficará gravado no meu coração.

Obrigada aos companheiros de jornada que me proporcionaram esta maratona física e espiritual. A organização não descurou nada, alimentando-nos o corpo e a alma.

Toda esta experiência fez-me ver que também é possível rezar com os pés e que afinal a fé move mesmo montanhas. Ana Catarina Santos.

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