
Podemos, num criativo esforço de imaginação, vislumbrar a fecundidade que brotaria da nossa catequese, da nossa pregação e do nosso testemunho, se as suas palavras fossem permeadas de uma experiência maternal. Como seria diferente o rosto do Mistério que apresentaríamos, se a nossa linguagem se permeasse da experiência bíblica de Deus, de um Deus de ternura, de entranhas maternais, de misericórdia.
É esta experiência que encontramos nestes poemas da autoria de António Couto, Bispo de Lamego, que agora se colocam à disposição do leitor. Refere-nos o autor que “são, ao todo, quarenta poemas, de uma forma ou de outra saídos das páginas da Bíblia e da sensibilidade do meu coração ao fulgor vulcânico e fervente das imagens saídas dessas páginas, aos acontecimentos do dia a dia e ao impacto que sobre mim vão exercendo algumas leituras de autores antigos e modernos”. O número de quarenta aponta-nos para o substrato da narrativa bíblia do Êxodo, no qual o Deus da Graça estabelece uma Aliança com o seu Povo, para com ele caminhar pelo deserto da libertação. Parábola da vida humana, o caminho no deserto torna-se fecundo quando irrigado pela Palavra que desce dos céus e cria no ser humano um coração de carne aberto aos irmãos. Os Salmos são a escola e o alfabeto que abrem ao louvor e à gratidão, à familiaridade com o Deus cuja vida recebemos como um dom, não como uma posse. No centro deste caminho está Jesus, “o caminho, a mão segura, / a água pura, / o pão de trigo”, que se revela a Tomé, nosso irmão gémeo, como a “mão segura que nos guia” na peregrinação da nossa vida.
Precisamos de uma pedagogia na difícil arte da oração, de um alimento que nos faça “viver de mãos erguidas, / e de coração levantado e extasiado”. Nas palavras que tecem esta obra, o leitor encontrará um alimento suave, belo e saboreado, para redizer o dizer de Deus, “recitar com mais amor cada uma das suas maravilhas”, para rezar.
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