O magistério de Papa Francisco – na linha da herança do concílio Vaticano II – representa um desafio à revisão do que significa hoje uma teologia espiritual como chaves para um itinerário de vida cristã. É a este desafio que o jesuíta esloveno Marko I. Rupnik – já conhecido entre nós através da publicação de numerosas obras – procura responder neste livro.
Rupnik procura o encontro entre o ocidente – o autor vive em Roma – e o oriente cristão, com toda a sua tradição orante, teológica e espiritual. Este encontro situa-se no interstício com a arte cristã na sua história, e com os grandes autores dos primeiros séculos do cristianismo. Daqui brota uma leitura da vida cristã ou vida espiritual como um caminho batismal e pascal, de passagem da morte para a vida, do individualismo para a comunhão, da divisão para a unidade. Rupnik percorre nesta obra os riscos e tentações de uma vivência religiosa moldada pelos critérios da sociedade ocidental: na leitura de passagens bíblicas como a história de Abraão ou os episódios evangélicos de cura, Rupnik traça os sentidos e duelos da vida cristã. A vivência espiritual não se identifica aqui com um conjunto de devoções pessoais ou observância de ritos – que podem estar ao serviço da fé ou da tentação –, mas insere-se no coração da história salvífica, do próprio mistério divino e trinitário que, como comunhão de amor, se enxerta na humanidade e a liberta do pecado e da morte.
No verdadeiro sentido da palavra, a vida espiritual começa quando há a comunhão na existência humana, quando recebemos a vida – que é comunhão, relação à maneira de Deus – como um presente. A vida espiritual só inicia realmente quando tudo o que é tipicamente humano começa a ser libertado das garras do eu predador, autoafirmativo, e começa a viver como relação, livre. A vida espiritual começa quando se entrega toda a natureza humana a um eu de comunhão.