Santo António de Lisboa

O padre Armindo Augusto, no seu livro Escritos Incompletos, refere:

o destino dos portugueses, era partir! Partir e, com a espada na mão direita e a cruz na mão esquerda, alargar, batalhando, as fronteiras do Império, alargar, persuadindo, as fronteiras da Fé! Partir e, em manhãs redolentes, tropicais, dizer em português o Evangelho à África, à Índia e ao Brasil. O destino dos portugueses é este partir, partir e ficar!

Esse homem que melhor entendeu a missão de Portugal, esse homem que melhor interpretou a mensagem da presença dos portugueses no mundo, resumindo com a sua vida a História de Portugal e desvendando o seu destino – foi Santo António de Lisboa!

Não poderia nascer em qualquer lugarejo ignorado por muitos e desconhecido por todos. Convinha que nascesse em Lisboa, capital das aventuras, cidade das descobertas, visitada por povos desde a pré-história, Lisboa do castelo, das Igrejas e ermidas, dos monumentos e estátuas, beijada pelas águas do Tejo numa ânsia febril de se misturarem com as ondas do Oceano.

Foi esta cidade que lhe serviu de berço. Ali, junto à Sé, recebeu a água baptismal e a unção dos óleos dos catecúmenos e do crisma. Nos claustros da Sé aprendeu a ler, a escrever e a contar. Não muito longe, no mosteiro de São Vicente, vestiu a cógulas dos cónegos regrantes e ali estudou, ali rezou, ali encantou a sua alma de aventureiro, de português que parte para ficar.

António cedo deixou a Pátria e partiu para Marrocos. Mas antes foi estudar as Sagradas Letras no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. E a alma franciscana, instalada nos claustros de Santo António dos Olivais, foi pedir esmola uma, duas, três vezes à porta de Santa Cruz. A alma de Fernando de Bulhões ficou encantada com aquela forma de pedir. Foi na Sé, foi em S. Vicente, foi em Santa Cruz e a alma de Fernão não se encontrara. Era naquela forma simples de viver que ele se viria a encontrar. Esta nova forma de viver vinha de longe, mas era ali que ele se encontrara e se achara para sempre naquele ideal.

Bateu à porta de Santo Antão dos Olivais e as portas baixaram-se para o receber. A passarada entoou o hino de vésperas. E foi ali que ele vestiu o hábito de irmão menor, a veste dos pobres para partir em missão. Mudou de nome e partiu como tantos portugueses que deixaram o seu corpo em terras longínquas: nas ondas profundas dos oceanos, nos rigores do sertão ou ainda no recôndito fechado das florestas.

António foi o primeiro homem europeu que combateu os herejes com a palavra e com o exemplo. Este santo, filho da cidade de Lisboa, alma-espelho da nossa história é mil vezes invocado por todos os povos do mundo. Ele foi o primeiro a partir para terras longínquas e deixou o seu nome como bênção para tantos portugueses.

Nesta hora inquieta do nosso planeta, nesta hora doente da nossa Europa, nós rezamos, protege-nos! Nele confiamos, a ele invocamos com o maior fervor.

Foto: A criança aponta quem é o pai. Pintura na igreja de Santo António, em Ortisei, Tirol do Sul, Itália.

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