Já sabemos que a santidade, mais do que um “prémio” reservado para alguns/algumas, é a primeira e radical “vocação” (chamamento, destino, propósito) que todos somos chamados a abraçar, independentemente do local, época, raça ou contexto em que nascemos e vivemos. Ora, a vida e testemunho de Santa Kateri (Catarina) Tekakwitha é mais um exemplo disto mesmo.
Kateri, a primeira índia nativa americana a ser canonizada (21.10.2012, por Bento XVI), nasceu em 1656, na aldeia Mohawk de Ossernenon (atual comunidade de Auriesville, da cidade de Glen – estado de Nova Iorque). O seu pai era da tribo Mohawk e sua mãe, cristã, era da tribo Algoquin, tendo sido ela a responsável pela sua primeira educação na fé. Aos 4 anos de idade, Kateri vê seus pais e irmão morrerem de varíola. Tendo sobrevivido à doença, não escapou às suas marcas: o seu rosto ficou desfigurado e a sua visão fortemente comprometida, a tal ponto que lhe valeu uma nova alcunha: “Tekakwitha”, ou seja, “aquela que esbarra nas coisas”. Órfã e completamente só, é acolhida por seu tio (profundamente anti-cristão). Quando tinha 10 anos, foi forçada a deixar a sua terra, pois esta havia sido arrasada numa guerra que envolveu soldados franceses e nativos do Canadá hostis à presença da sua tribo na margem sul do Rio Mohawk. Forçada a fugir para a margem norte, viveu a partir de então (e durante 10 anos) em Caughnawaga (onde hoje se ergue um santuário em sua memória – ver https://www.katerishrine.com/).
Aos 18, decidiu frequentar, em segredo, a catequese. Tendo sido descoberta, e apesar da autorização concedida pelo seu tio (com a condição de ela nunca abandonar a sua aldeia indígena), acabou por ser ridicularizada e desprezada pela sua comunidade. Foi alvo de acusações e mesmo de ameaças, mas nada a demoveu de ser batizada aos 20 anos de idade, na Capela de São Pedro, de outro Santuário que atualmente lhe é dedicado, na cidade de Fonda. Dois anos depois, e sentindo-se cada vez mais em risco, acaba por fugir para a “Missão S. Francisco Xavier”, uma comunidade de nativos cristãos situada na vila de Caughnawaga (Kahnawake), no Quebec – Canadá. Gozando finalmente de alguma paz e tranquilidade, a sua gentileza, bondade e sentido de humor puderam então manifestar-se, ao mesmo tempo que ia dando passos muito firmes na sua crescente fé. Faz a sua Primeira Comunhão no dia de Natal de 1677 e, dois anos depois, na Festa da Anunciação, faz um voto de virgindade perpétua. A sua vida transforma-se numa total dedicação às crianças (catequese) e ao auxílio dos idosos e doentes. A frequência da Eucaristia diária e a sua devoção ao Santíssimo Sacramento e à Cruz de Jesus eram por todos reconhecidas.
Faleceu a 17 de abril de 1680, aos 23 anos de idade. Algumas testemunhas afirmam que, pouco antes de morrer, as marcas de varíola desapareceram completamente da sua face e que o seu rosto até brilhou com uma beleza radiante. A Tradição regista que as suas palavras ao morrer foram “Jesus, eu amo-Te!”.
Atualmente, está sepultada na reserva indígena de Kahnawake, a sul de Montereal (Quebec), sendo inspiração para muitos habitantes daquela região.
Kateri impressiona-nos pela ação da graça na sua vida, carente de apoios externos, e pela firmeza na sua vocação tão particular na sua cultura. Nela, fé e cultura se enriqueceram mutuamente! Possa o seu exemplo nos ajudar a viver lá onde nos encontremos, sem renunciar àquilo que somos, amando a Jesus!
Bento XVI, na homilia da sua canonização