“Que a voz não te esmoreça”

Estamos a poucos dias das eleições europeias de 2019, em que se escolhem os deputados ao Parlamento Europeu (PE) de cada um dos 28 estados-membros. Os portugueses elegem 21 deputados.

Navego (que bela e sempre surpreendente metáfora!) online pelos dados da PORDATA, a base de dados estatísticos do Portugal contemporâneo. Tradicionalmente, em Portugal, a participação nas eleições europeias é baixa, com uma abstenção crescente nas três últimas eleições: 2004, 61,2%; 2009, 62,2%; 2014, 64,9%. Na verdade, só nas duas primeiras vezes que os eleitores portugueses puderam votar para os seus representantes ao PE é que a abstenção foi inferior a 50%: 1987, 26,8%; 1989, 48,6%.

Indo à bolina na mesma página de Internet, podemos verificar que a taxa de participação nas eleições para o parlamento nacional, para as autarquias e para a presidência da República tem também diminuído sistematicamente, com uma abstenção superior a 40%.

Eleições Europeias - Taxa de abstenção em Portugal. Fontes/Entidades: SGMAI, PORDATA, 2015-06-26
Eleições Europeias – Taxa de abstenção em Portugal. Fontes/Entidades: SGMAI, PORDATA, 2015-06-26

Por que devo votar no dia 26 de maio?

Não me vou debruçar sobre as razões desta evidência, assunto que tem sido amplamente tratado em comentário nos media ou em investigação académica. Valerá a pena, porém, perguntar-nos por que razão votar agora no dia 26 de maio. A Comissão Europeia disponibiliza em vários pontos de informação físicos, e também online, material rigoroso, completo, utilizando uma linguagem pedagógica e clara, sobre a importância de votar nestas eleições, sintetizada em três pontos principais: (1) o seu voto influencia as decisões do Parlamento Europeu sobre questões que afetam a sua vida quotidiana; (2) o seu voto dá à União Europeia a força necessária para o proteger e à sua família e (3) o seu voto defende a democracia.

O nosso voto defende a democracia

Centremo-nos neste último ponto: o nosso voto defende a democracia. Não só é possível por causa da democracia, como ele é preciso para a democracia.

Europa para onde vais?
Europa para onde vais?

Estamos em maio e ainda temos presente as evocações dos 45 anos da Revolução dos cravos, há pouco menos de uma semana. Provavelmente nem todos os que leem estas linhas assinalaram esse aniversário, no entanto acredito que muitos não só se lembraram como o festejaram: 45 anos de democracia. Este regime imperfeito, difícil, exigente e complexo em que vivemos há 45 anos. Parece muito tempo, mas não é. É menos, até, do que a idade com que morreu a anterior ditadura (essa, sim, demasiado longa, nem que fosse velha de poucos dias…). Como devemos zelar pela nossa jovem (imperfeita, difícil, exigente e complexa) democracia!

São famosas as palavras proferidas na Câmara dos Comuns, a 11 de novembro de 1947 pelo primeiro-ministro inglês, Winston Churchill: “A democracia é a pior forma de governo, à exceção de todos os outros já experimentados ao longo da história.”

E aqui chegamos, penso, em ano de aniversário redondo da democracia, em mês de eleições europeias. E ouço a belíssima melodia do maio, maduro maio, de José Afonso. Ouço-a a várias vozes, ouço-lhe várias vozes… Desses versos, um repete-se e ecoa neste maio em que escolhemos celebrar e em que escolhemos votar: “Que a voz não te esmoreça.

Recordo-me de um cartoon de revista que apareceu em 1994, no 20.º aniversário do 25 de abril (infelizmente, não me lembro de que revista, nem qual o autor). Era um desenho simples que mostrava duas figuras estilizadas, em jeito de banda desenhada, a conversar. Uma figura ia mostrando à outra como o tempo anterior é que era bom, em frases sucessivamente iniciadas por “o meu pai diz que…” antigamente era tudo melhor. Finalmente, na última frase, a figura que ia contradizendo aquela visão passadista de Portugal rematava o diálogo: “O meu pai diz que, diga-se o que se disser, agora pode dizer-se.” No dia 26 de maio, em todas as oportunidades de participação cívica, não deixemos esmorecer a voz; porque o nosso voto defende a democracia.

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