O tempo da quaresma é sinónimo de autenticidade. Na verdade, a quaresma é o “tempo favorável” para cuidarmos do nosso espaço interior a fim de reencontrar o essencial das nossas vidas, renovando a nossa relação com Deus, com os outros, nossos irmãos, e com a criação.
Por onde devemos começar esta “viagem de regresso a Deus”, como a chama o Papa Francisco? É o próprio Evangelho que nos sugere o ponto de partida: sermos sinceros e não hipócritas (cf.: Mt 6, 1-6.16-18). Quer dizer, devemos lutar contra a tentação da imagem, isto é, achar que o aparecer é mais importante do que o ser, o dar nas vistas conta mais do que a intensidade da relação, o que brilha é mais cativante do que o que está em profundidade.
Para isso é necessário um empenho para sermos verdadeiramente autênticos, porque é na profundeza da nossa alma que encontramos o nosso ADN, a marca constitutiva da nossa vida, o nosso ser filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança.
Neste número da revista, a rubrica Especial oferece uma oportuna reflexão sobre dois verbos essenciais na procura da autenticidade: ouvir e escutar. Se a aliança que Deus estabelece com o povo de Israel começa com este verbo: “Escuta, Israel…” (Dt 5, 1) e se Jesus, na sua vinda à terra, se apresenta como o Verbo (Palavra) encarnado, então é evidente que a operação da escuta é fundamental para a nossa vida: “Quem me escutar terá a vida eterna”.
Às vezes, quando se fala de empenho, de esforço para sermos autênticos, pensamos num trabalho duro, difícil e fatigante. Certamente é um trabalho que irá fazer doer o nosso corpo, as nossas concupiscências, a nossa preguiça e as nossas vaidades, mas a meta que nos é proposta irá recompensar todas as fadigas. É como a subida a uma alta montanha: o percurso é duro, íngreme, fatigante e, até, perigoso, mas o panorama que se desfruta ao chegar à meta, recompensa incomparavelmente o esforço investido.
É o Senhor que acende em nós o desejo e a vontade de alcançar o cimo da montanha (a nossa autenticidade), por isso, não devemos apenas contar com as nossas frágeis forças mas, sobretudo, com a sua graça e com o seu amor que não tolera perder nenhum dos seus filhos.