Precisamos de doses maciças de fé e esperança

20 de maio, festa do Pentecostes

Os hebreus, ao celebrarem esta festa, agradeciam pela lei que tinham recebido de Deus e pelas colheitas dos frutos da terra. No calendário cristão, o Pentecostes lembra que, 50 dias depois da Páscoa, os discípulos de Jesus estavam reunidos, quando, “de repente, ouviu-se um ruído do céu, como se soprasse impetuoso vendaval, enchendo toda a casa onde estavam reunidos. Então viram como que línguas de fogo que, repartindo-se, pousaram sobre cada um. Todos ficaram cheios de Espírito Santo”.

Assim conta o livro Atos dos Apóstolos (2, 1-4) que, ao relatar a origem da Igreja, afirma que “todos eles se reuniam sempre em oração, com as mulheres, inclusive Maria, a mãe de Jesus, e com os irmãos dele”. Além disso, “partiam o pão em casa e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus” (At 2, 46).
Toda a festa religiosa, além de ser uma lembrança, é a repetição e recriação do que aconteceu na origem para dar sentido à atualidade; é a volta às raízes para buscar novo ânimo e tomar consciência do que somos na atualidade. Na festa de Pentecostes celebra-se, então, o nascimento da Igreja e a alegria dos cristãos “cheios do Espírito Santo”, mas, ao mesmo tempo, somos interpelados para viver novamente o que ocorreu naqueles dias logo após a Ascensão de Jesus ao céu.

O que a cabeça e a lógica matemática não conseguem explicar, a vida pode sentir como necessidade. O Divino é o sempre renovado sopro de vida que nos faz acreditar que a vida vence a morte. É esse Espírito que nos leva da crença para a fé “que remove montanhas”. Fé na vida, que gera a alegria pela gestação de uma nova humanidade, para a qual haverá sempre espaço se não matarmos a esperança. Apesar da realidade; melhor, contra essa realidade. Como isso acontecerá é um mistério, mas temos necessidade desta fé e desta esperança para o nosso viver e para a construção de um mundo novo. Precisamos do espírito gerador de vida, aquele de que fala a Bíblia quando apresenta Deus criador cujo Espírito “pairava sobre as águas”. Ou − numa imagem cheia de significados − quando o homem que começa a viver depois que Deus lhe inspirou no rosto o sopro (=espírito) de vida.

Certamente, fé e alegria não são dados científicos e não são mercadorias disponíveis no retalho da humanidade que, ao invés disso, oferece cotidianamente, e por atacado, horrores e desespero (guerras, fome, pobreza…). É neste momento que precisamos de fé, aquilo que Erich Fromm, um psicanalista da sociedade contemporânea, chama de “consciência da gestação; a visão do presente num estado de gravidez”. A visão fria da realidade pode matar a humanidade. “Quando a esperança desaparece, a vida termina na realidade ou potencialmente”.

Para uma renovação da nossa sociedade precisamos de doses maciças de fé e de esperança.

“Vem, Espírito Santo e renovai a face da terra”.

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