Em 2022, dediquei a minha rubrica aos profetas do nosso tempo, homens e mulheres, crentes de matriz cristã ou de outros credos, figuras que continuam a marcar positivamente a família humana. Enquanto escrevia sobre a última figura Chiara Luce Badano, pensando na próxima JMJ, surgiu-me uma luz: criar uma nova rubrica, dedicada aos Santos patronos da JMJ Lisboa23 e, sobretudo, à santidade juvenil.
Ao falar de santidade, alguém – não só os jovens – pode torcer o nariz e achar isso uma beatice, nada cativante. Concordo! Numa sociedade líquida, como já foi definida, é difícil encontrar algo de firme e sólido, que estimule os jovens a projetar o seu próprio futuro. É um desafio. Desafio-me a mim também para tornar “jovem” o perfil dos santos escolhidos como “patronos” e, diria mais, “modelos” para os jovens “antes, durante e depois” da JMJ de Lisboa.
Escrevo no momento em que desmoronou o “sonho” de Portugal de se tornar o “campeão do mundo” no Catar. Ainda não sei quem será. Sei só que não será Portugal.
Sei um pouco do quanto se escreveu a torto e a direito sobre Cristiano Ronaldo, o ídolo para muitos jovens.
Este é o horizonte em que navegamos. No passado eram as ideologias, depois vieram as utopias dos anos setenta do século passado.
Hoje, há o mito do sucesso, do poder, dos heróis, que duram umas décadas ou apenas alguns meses e a seguir entra em cena mais alguém num processo de contínua substituição.
A santidade é o rosto mais belo da Igreja
Os santos e a santidade respondem à irreprimível e secreta procura de um sentido na vida, ínsito em cada ser humano.
O Papa Francisco na sua exortação apostólica Gaudete ed exsultate (Alegrai-vos e exultai), sobre o chamamento à santidade no mundo contemporâneo, dá esta definição da santidade: “A santidade é o rosto mais belo da Igreja!” (GE n. 7). Eis, então, o nosso desafio: descrever a beleza destes rostos de santos e santas que testemunharam a “medida alta” da vida cristã, o amor a Deus e aos irmãos.
Se estes e estas podem, porque não eu?
Parafraseando esta frase de Santo Agostinho, cada jovem deveria colocar-se a seguinte pergunta:
Se muitos jovens como eu percorreram o caminho da fé, da esperança e da caridade até à santidade, por que não posso fazer o mesmo eu também?
Temos uma grande listagem de santos jovens e de santidade juvenil. O longo pontificado do Papa São João Paulo II († 2002) criou uma grande multidão de santos (483) e beatos (1342).
Ainda hoje lembro o seu convite à santidade naquela noite de agosto do ano 2000, no fim da Jornada Mundial da Juventude em Tor Vergata (Roma): “Jovens, não tenhais medo de ser os santos do novo milénio”.
E, dois anos mais tarde, na JMJ de Toronto, repetia: “Não esperes a velhice para te aventurares no caminho da santidade. A santidade é sempre jovem, assim como a juventude de Deus é eterna”.
Seria interessante procurar a juventude do início do milénio, hoje com 40, 45 e 50 anos, e perguntar-lhes: “Que é feito deste apelo à santidade?”.
A santidade é para todos

O Papa Bento XVI, perante uma grande multidão de jovens no santuário mariano de Loreto (Itália), depois da canonização de vários jovens, a 2 de setembro de 2007, dizia:
E ainda penso nos muitos rapazes e raparigas que pertencem às fileiras dos santos ‘anónimos’, mas que não são anónimos para Deus. Todos nós somos chamados a ser santos, e vocês sabem disso.
Por sua vez, o Papa Francisco na audiência geral de 19 de novembro de 2014, reafirmava os mesmos princípios: a santidade é um dom de Deus, todos somos chamados a ser santos, cada um é chamado a sê-lo nas suas próprias condições de vida.
Desenvolvendo este tema na exortação Gaudete ed exsultate (2018), Francisco lembrava os jovens santos ao pé da porta e a classe média da santidade (GE n.7): os que vivem e/ou viveram ao nosso lado, sem nos darmos conta da sua santidade, como já vimos em Clara Badano ou, veremos, em Carlos Acutis.
Mas quando uma doença grave, um acidente, uma situação violenta, os arrebata prematuramente da vida, então reconhecemos o testemunho da sua santidade, a “medida alta” do amor cristão.
Santos, jovens, patronos e modelos
A Igreja apresenta estes jovens santos, como “patronos” dos jovens de hoje, como “referências para a sua existência”, pois os jovens são mais recetivos perante um testemunho de vida do que perante um sermão teológico e abstrato.
Como iremos ver, trata-se de jovens que viveram todas as dimensões da juventude, amantes da beleza, da música, do desporto, da amizade e de uma alegria contagiante.
Como cristãos viveram o dia a dia de forma extraordinária, com as forças e as fraquezas da idade; não foram notícia nos jornais, aliás, muitas vezes passaram despercebidos aos olhos dos homens, mas não aos de Deus.
Santidade juvenil
Entre os santos patronos da JMJ Lisboa23, estão também figuras de santos falecidos em idade adulta ou avançada, como António de Lisboa, Bartolomeu dos Mártires, João de Brito ou as beatas Joana de Portugal e Maria Clara do Menino Jesus.
Veremos o perfil juvenil no caminho para a santidade destas personagens, tocadas ao longo da sua vida pelo toque da graça de Deus. Veremos como a sua biografia não foi isenta de erros, paixões e pecados, mas sim uma constante e progressiva relação de amor com Deus.
Nas suas histórias, mais do que procurar um caminho excepcional, exaltante, de heroísmo de super-homem (ou mulher), tentaremos ver a sua exemplaridade, credibilidade e acessibilidade. São santos próximos de nós, independentemente da época cronológica, que nos fazem sentir familiar o Eterno a que anseia todo o coração humano.
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