Jovens…e os santos da Christus Vivit
Pier Giorgio (Pedro Jorge) Frassati, nascido em Turim (Itália) em 1901, filho de uma família rica (sua mãe, AdelaideAmetis, era pintora e o seu pai, AlfredoFrassati, foi o fundador do jornal La Stampa – ainda hoje existente –, senador e embaixador da Itália em Berlim), foi considerado por João Paulo II como o “jovem das Bem-Aventuranças”. O livro de Maria Di Lorenzo – Pier Giorgio Frassati. O amor nunca diz «Já chega!» (Lisboa: Paulinas, 2003) que aqui seguirei te ajudará a perceber porquê…
Pier Giorgio teve uma infância feliz. Brincalhão e alegre, tinha uma personalidade forte, mas conseguia ser também uma criança afetuosa e responsável, especialmente sensível ao sofrimento dos outros: «…quando Pier tinha quatro anos, bateu à porta da casa Frassati uma mulher com uma criança descalça ao colo. Pier viu e compreendeu imediatamente: tirou os sapatos e deu-lhos, depois fechou rapidamente a porta para que ninguém soubesse» (p. 25).Assim, desde muito cedoque ele sentia que a sua riqueza só teria valor se colocada ao serviço daqueles que pouco ou nada tinham. Mais tarde, numa das suas cartas, resumiu, deste modo, o seu “projeto de vida”:
«Nós – que, por graça de Deus, somos católicos – não devemos gastar os anos mais belos da nossa vida como desgraçadamente fazem tantos jovens infelizes que se preocupam em gozar os bens terrenos e não produzem nada de bom, mas que apenas fazem frutificar a imoralidade da nossa sociedade moderna. Devemos treinar-nos, a fim de estar prontos para travar as lutas que, seguramente, teremos de combater pela realização do nosso programa e para assim darmos à nossa Pátria, num futuro não muito longínquo, dias mais alegres e uma sociedade moralmente sã» (p. 127).
Aos 17 anos e contra a vontade de seus pais, inscreve-se na Conferência de S. Vicente de Paulo de Turim e desse modo passa a colaborar no serviço aos pobres nos arredores da cidade. Três anos mais tarde, integra o Partido Popular Italiano que defendia, de acordo com os ideais da democracia cristã, que a caridade já não era suficiente para resolver os problemas sociais: eram precisas reformas estruturais, ideia já defendida pelo papa Leão XIII, especialmente na encíclica “Rerum Novarum” (1891).
Alpinista destemido, o desporto era para ele uma forma de fruição da beleza da criação e uma oportunidade de encontro e de partilha dos seus sonhos e inquietações. Por isso dizia aos seus amigos de aventuras gostar de «(…) ir à procura de Deus nos cumes…”» (p. 94).
Depois de conhecer, na Alemanha, as condições de trabalho dos mineiros, faz a sua escolha profissional:«“Quero ajudar o meu povo de todos os modos e posso fazer isso melhor como leigo do que como padre; […] como Engenheiro de Minas posso agir de maneira muito mais eficaz através do meu exemplo”» (p. 43). Contudo, e uma vez mais forçado por seu pai, acabou por assumir a administração do jornal, renunciando aos seus sonhos e projetos.
Também Frassati teve o seu “amor de juventude”: chamava-se Laura Hidalgo e, tal como ele, amava a montanha, participava dos movimentos estudantis de Acção Católica da época… Contudo, por ser de uma classe social inferior, este amor não tinha a aprovação dos seus pais. Outra dolorosa renúncia...
Entregue a si mesmo e ao respeito (contrariado) pela vontade de seus pais, o sofrimento e a doença apoderam-se de Frassati. Sua irmã vê-o «(…) diferente; magro, dentro de um casaco tão largo que parecia dançar lá dentro, com as feições angulosas, como que consumidas por um desgosto secreto» (p. 104). Em casa, as atenções recaíam sobre sua avó, cuja saúde tinha piorado. Todos menosprezam a sua dor: «“Amanhã será o dia do funeral da tua avó e tu vais faltar. Até parece que fazes de propósito…”» (p. 106). Só depois (e demasiado tarde) se deram conta de que sua dor não era fingida: poliomielite fulminante fora o diagnóstico que, depois, ninguém quis aceitar… Em menos de uma semana se apagou a luz intensa desta sua breve vida. Momentos antes do seu último suspiro, pediu à sua irmã que fossem entregues umas injecções a um pobre que deveria ter visitado, e que renovasse a apólice de um outro; no leito da dor e da própria morte, era para fora de si que o seu olhar se voltava…De madrugada, pediu à enfermeira que o ajudasse a fazer o sinal da Cruz. E assim morreu. Em silêncio e sem ninguém perturbar, vítima da sua própria caridade. Eis uma “pincelada” de um retrato que merece ser visto com mais pormenor. Fica a dica…