Pier Giorgio Frassati

O Papa Francisco, num encontro com o instituto religioso fundado em 1873 por São Leonardo Murialdo para a assistência aos jovens operários em Turim, comentava:

Este tempo faz-me pensar tanto, ali, no “fogo”, no centro da maçonaria, em Turim, no Piemonte, muitos santos, muitos! … neste duro contexto, marcado por tanta pobreza moral, cultural e económica… (17.03.2023).

Os mais famosos foram João Bosco, José Cafasso, José Bento Cottolengo, Francisco Faà de Bruno, os esposos Júlia Colbert e Carlo Trancredi e Leonardo Murialdo. Nesta onda não podemos deixar de fora o jovem Pier Giorgio Frassati, nascido em Turim a 6 de Abril de 1901, e que faz parte dos 13 patronos da JMJ de Lisboa.

Pier Giorgio Frassati - O Papa João Paulo II apresentou-o como o jovem das oito bem-aventuranças, portador da graça do Evangelho e da alegria da salvação.

Pier Giorgio Frassati – O Papa João Paulo II apresentou-o como o jovem das oito bem-aventuranças, portador da graça do Evangelho e da alegria da salvação.

Filho de Alfredo Frassati, agnóstico, senador e embaixador da Itália em Berlim, fundador do jornal La Stampa, e de Adelaide Amétis, pintora e avessa a qualquer forma de devoção excessiva, Pier Giorgio cresce numa família abastada e aristocrática, onde a única pessoa da sua casa que rezava era a avó.

Bem cedo começa a sentir atração pela oração e pelo serviço aos pobres. Tinha apenas quatro anos quando ao ver uma mulher a chorar com o filho ao colo, tirou os seus sapatos e entregou-os à senhora. Não suportava ver a miséria que havia à sua volta, na cidade operária de Turim. Aplicava-se em pequenos trabalhos para ganhar dinheiro e distribuí-lo aos pobres. Recuperava papel prateado, selos para os missionários e economizava os bilhetes do teleférico da cidade.

Ainda adolescente, ia à Missa e rezava com assiduidade. Amava ler a Bíblia, sobretudo o Evangelho de Mateus e as epístolas de Paulo. Um dia em que estava a ler no elétrico alguém perguntou o que havia de tão interessante naquele livro. “Palavras de vida eterna”, respondeu.

Os pais deram-se conta da sua atração pela fé católica. A mãe tinha o terror de que um dia chegasse a casa com a ideia de se tornar padre. O pai, mais pragmático, foi ter com o pároco para o questionar: “Que fizeram com o meu filho?”. O seu sonho era que se tornasse diretor do jornal La Stampa. Só os amigos que frequentava sabiam reconhecer-lhe qualidades excepcionais, como a prontidão no serviço, a generosidade, a proximidade com os mais pobres, a alegria e simplicidade.

Aos 17 anos ingressa na Conferência de São Vicente de Paulo de Turim, entregando-se ao serviço dos pobres na periferia da cidade. Encontra situações de famílias divididas, filhos ilegítimos, homens que tinham problemas com a justiça.

Entre 1918 e 1922, vive na Alemanha, em Berlim, na embaixada de Itália. Como toda a família, era profundamente anti-fascista, chegando a envolver-se em confrontos físicos com adeptos do Partido Social Fascista. Quando Mussolini assumiu o poder, em 1922, o seu pai demitiu-se de embaixador e regressou a Itália com a família. Pier ingressa no Partido Popular Italiano, defendendo que a caridade já não era suficiente para resolver os problemas sociais. Uma das suas máximas era: “A Caridade não é suficiente: precisamos de reformas sociais”. Foi sócio fundador do jornal Momento, baseado no pensamento social da Igreja, que com a encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII, tinha inspirado a juventude daquela época.

O fundamento da fé – dizia – é o amor, sem o qual a religião desmorona, pois não somos verdadeiros católicos quando não conformamos a nossa vida aos dois mandamentos de Cristo que constituem o essencial da fé católica: amar a Deus com todas as forças e ao próximo, quer dizer, a todo homem, como a si mesmo.

Pier Giorgio tinha uma grande paixão pelo desporto, sobretudo o alpinismo. “Aprendei – dizia – a ser mais fortes na vossa alma do que nos vossos músculos. Se conseguirdes, então sereis verdadeiros apóstolos da fé em Deus”.

Pier Giorgio tinha uma grande paixão pelo desporto, sobretudo o alpinismo. “Aprendei – dizia – a ser mais fortes na vossa alma do que nos vossos músculos. Se conseguirdes, então sereis verdadeiros apóstolos da fé em Deus”. Gostava de equitação e era o único da família que conseguia montar um cavalo feroz que pertencia ao pai. Amava a vida e agarrou-a com determinação, mas tinha um vício que lhe veio do seio da mãe: fumava tabaco, sobretudo cachimbo. “A minha mãe – dizia – fumava por cima da minha cabeça enquanto eu mamava”.

Na Alemanha, conhecera as condições de trabalho dos mineiros, por isso, ainda estudante de Engenharia Industrial Mecânica, pretendia dedicar-se aos mineiros, que via como uma das classes profissionais mais sofredoras no trabalho e nas condições sociais. Contudo, forçado pelo pai, acabou por assumir a administração do jornal, renunciando aos seus projetos.

Outra dolorosa renúncia foi o amor da sua vida: Laura Hidalgo, uma jovem órfã, amante da montanha, estudante de Matemática e que conhecera na Juventude Católica. Conta o seu segredo à irmã, que lhe faz compreender que não pode envolver-se com alguém de uma classe inferior: seria um escândalo para a família.

A sua irmã vê-o diferente, magro, consumido por um desgosto secreto, mas em casa as atenções recaem sobre a avó, cuja saúde vai piorando até falecer. Ninguém entende a sua ausência no dia do funeral. Pouco depois os familiares apercebem-se de que a sua dor não era fingida. Tratava-se de uma poliomielite fulminante, que em menos de uma semana findou a vida luminosa de Pier Giorgio Frassati. Morre três dias depois da sua avó, a 4 de julho de 1925.

A notícia corre rapidamente em Turim. Uma multidão numerosa ocorre a sua casa: pessoas do povo, pessoas simples, artesãos, mães com os filhos. A Igreja tornou-se pequena, a praça ficou superlotada de tanta gente que viera prestar homenagem a este jovem de 24 anos.

Momentos antes do último suspiro, pediu à irmã que entregassem umas injeções a uma pessoa pobre que deveria ter visitado e que renovassem a apólice de uma outra. De madrugada, pediu à enfermeira que o ajudasse a fazer o sinal da Cruz. Assim morreu o jovem das oito bem-aventuranças!

Uma vida ao serviço dos outros, feita de oração, Evangelho e estudo, mas também de passeios, encontros com amigos, desporto, escaladas, alturas para alcançar – metáforas todas de uma espiritualidade jovem e laical!

O Papa São João Paulo II beatificou-o a 20 de Maio de 1990, proclamando-o Patrono dos Desportistas.

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