O que fica depois das celebrações do centenário das aparições de Fátima?
A celebração de um centenário como o das aparições de Nossa Senhora em Fátima não pode, de modo nenhum, ser reduzida a um ‘happening’, ou seja, a um mero momento celebrativo, mesmo que seja muitíssimo importante e indispensável a celebração do mesmo.
Nesse sentido, é necessário que essa celebração marque um antes e um depois, seja um momento de chegada e um momento de partida. Um momento no qual damos graças a Deus pelos dons recebidos ao longo destes 100 anos, mas, simultaneamente, um momento que deve impelir a, com decisão e criatividade, ousar trilhar novos caminhos que sejam capazes de continuar a concretizar os dons de Deus para o futuro.
A celebração deste centenário não pode mesmo ficar reduzida à memória de um acontecimento passado. Essa memória não pode faltar, pois daí vimos, mas tem de nos lançar para o futuro, pois o dom recebido isso exige e a isso nos abre.
Desafios para o futuro
Nesse sentido e a modo de exemplo, destaco aqui dois desafios a ter em conta. O primeiro tem a ver com a maneira como olhamos para Maria e como ela aparece ‘retratada’ nos nossos discursos, orações e ações e que me parece estar bem traduzido nas palavras que o Papa Francisco pronunciou em Fátima, na capelinha das aparições, por ocasião da sua visita:
Peregrinos com Maria… Qual Maria? Uma “Mestra de vida espiritual”, a primeira que seguiu Cristo pelo caminho “estreito” da cruz, dando-nos o exemplo, ou então uma Senhora “inatingível” e, consequentemente, inimitável? A “Bendita por ter acreditado” (cf. Lc 1, 42.45) sempre e em todas as circunstâncias nas palavras divinas, ou então uma “Santinha”, a quem se recorre para obter favores a baixo preço? A Virgem Maria do Evangelho venerada pela Igreja orante, ou uma esboçada por sensibilidades subjetivas que A veem segurando o braço justiceiro de Deus pronto a castigar: uma Maria melhor do que Cristo, visto como Juiz impiedoso; mais misericordiosa que o Cordeiro imolado por nós?
O papel das mulheres na Igreja
O segundo tem a ver com o papel das mulheres na Igreja. Também em relação a esta temática não podemos apenas ficar situados ao nível dos discursos escritos e falados, se bem que eles sejam muito importantes. Para precisar este desafio recorro, de novo, às palavras do Papa Francisco, agora na Exortação Evangelii Gaudium:
A Igreja reconhece a indispensável contribuição da mulher na sociedade, com uma sensibilidade, uma intuição e certas capacidades peculiares, que habitualmente são mais próprias das mulheres que dos homens. Por exemplo, a especial solicitude feminina pelos outros, que se exprime de modo particular, mas não exclusivamente, na maternidade. Vejo, com prazer, como muitas mulheres partilham responsabilidades pastorais juntamente com os sacerdotes, contribuem para o acompanhamento de pessoas, famílias ou grupos e prestam novas contribuições para a reflexão teológica. Mas ainda é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja. Porque “o génio feminino é necessário em todas as expressões da vida social; por isso deve ser garantida a presença das mulheres também no âmbito do trabalho” e nos vários lugares onde se tomam as decisões importantes, tanto na Igreja como nas estruturas sociais. (nº 103)
Os textos que se seguem e com os quais terminamos este conjunto de contributos a que chamámos Leituras sobre Maria, têm essa perspectiva de futuro.
Com eles propomos algumas linhas de reflexão que possam ajudar a tirar consequências e a continuar a concretizar Fátima como um acontecimento de vida que faz viver.
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