Para todos, no dia a dia, hoje!

Apanhou-nos meio de surpresa, pois não se falava muito nela. Não foi anunciada com muita antecedência, nem com a pompa e circunstância a que outros textos nos habituaram. Assinada a 19 de março de 2018, chegou ao conhecimento público no dia 9 de abril.

Deste modo, de uma maneira, diria, bastante normal, tomamos conhecimento da terceira Exortação escrita pelo papa Francisco. Desta vez o texto é mais pequeno, mas o tema, esse, não deixa de ser maior.

Alegrai-vos e exultai

E uma vez mais a alegria faz parte do título. Alegrai-vos e exultai, assim começa o texto, sendo ao mesmo tempo um pedido e uma oferta. E o subtítulo, também, uma vez mais, dá-nos o tom e a temática: sobre o chamamento à santidade no mundo atual.

Quando muitos se interrogam se a santidade ainda tem lugar nos dias de hoje; quando outros tantos se questionam se ela não é algo de reservado só para alguns, aqueles que são mais capazes, que estão mais preparados, que estudaram mais e sabem mais destas coisas, porque estão sobretudo interessados em Deus e na sua glória; quando ainda outros parecem intuir que ela não pode ser vivida no dia a dia, pois o viver quotidiano introduz distrações que são incompatíveis com uma vida santa, eis que o convite se faz ouvir bem alto, dirigido a todos, no meio do viver concreto e hoje.

S. José, o cuidador

A data da assinatura do texto − 19 de março, dia da solenidade de S. José − já quer, no meu entender, dizer algo de importante acerca da Santidade. A missão de S. José é a de ser cuidador, assim falou o Papa dele, mesmo no início do seu pontificado. E não é só cuidar de Maria e do Menino, mas sim de toda a Igreja.

Esse é o convite que agora se destaca, viver a santidade, não para uso fruto próprio, mas para renovação da Igreja e transformação do mundo. Parece-me que essa será, certamente, uma das melhores maneiras de viver e exercer o cuidado.

Santos e irrepreensíveis na Sua presença, no amor

Para isso, o Papa, como o próprio diz, não pretende oferecer

um tratado sobre a santidade, com muitas definições e distinções que poderiam enriquecer este tema importante ou com análises que se poderiam fazer acerca dos meios de santificação.

O seu objetivo, sendo apresentado como mais simples, não é, do meu ponto de vista, menor ou menos importante, como facilmente julgo que se pode perceber a partir da maneira como é formulado:

fazer ressoar mais uma vez o chamamento à santidade, procurando encarná-la no contexto atual, com os seus riscos desafios e oportunidades, porque o Senhor, escolheu cada um de nós “para ser santo e irrepreensível na Sua presença, no amor” (cf. Ef 1, 4) (GE, nº 2).

Santidade ao pé da porta

Papa Francisco durante a visita a uma organização médica religiosa "Presidio sanitario delle Misericordie", em 16 de novembro de 2017, perto do Vaticano. Foto da imprensa do Vaticano.
Papa Francisco durante a visita a uma organização médica religiosa “Presidio sanitario delle Misericordie”, em 16 de novembro de 2017, perto do Vaticano. Foto da imprensa do Vaticano.

E o convite aí está, dirigido a todos:

Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração.
Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. (GE, nº 14)

Para ser vivido no meio das tarefas quotidianas, como uma “santidade ao pé da porta”, como a apelida o Papa:

Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da «classe média da santidade (GE, nº 7).
Realizando as ações ordinárias do dia a dia de uma maneira extraordinária: (cf. GE nº 17), cada um pelo seu caminho (cf. GE nº 11), feito com pequenos passos e a partir de pequenos gestos (cf. GE, nº 16).

Onde a fragilidade encontra a força da graça

E desenganem-se aqueles que possam pensar que uma santidade assim vivida é ‘uma meia santidade’, ou ‘uma santidade menor’, pelo contrário, trata-se de um vigoroso apelo dirigido a todos, interpelando a que cada um conceba a totalidade da sua vida como uma missão (cf. GE nº 23).

O que se pede é muito, é tudo, mas não é impossível e não há que ter medo:

Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça (GE, nº 34).

Este pedido traz consigo um dom: o dom da felicidade. A nossa e a do mundo, porque “cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o mundo” (GE, nº 33), destacando, assim, e de um modo mais perceptível, os traços daquela Presença que o sustenta e impulsiona.

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