Neste mês de Março escolhi falar de São José.
Já sabemos que o Papa Francisco continua a baralhar as nossas agendas e planos abrindo novas pistas e percursos, servindo-se de datas e intuições que lhe brotam do fundo da consciência. Tinha acabado de lançar 2021 como o ano de São José, no dia 8 de Dezembro de 2020, e logo, pouco mais tarde, anunciou o ano da Família para assinalar o aniversário da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, a começar no dia 19 de Março de 2021. “Afinal, o que quer o Papa?”, foi a reação de alguns.
Se por um lado ficamos confusos perante esta sobreposição, por outro lado temos uma boa oportunidade para descobrir o papel invulgar de São José no seio da vida familiar.
Quando era criança metiam-me impressão certos títulos que saiam da boca do padre e da minha catequista: José castíssimo esposo da Virgem Maria, pai putativo de Jesus. Hoje, tenho receio de usar estas expressões na igreja, não sabendo o que vai na imaginação não só das crianças, mas também do povo de Deus.
Contudo, a tradição cristã, por de trás destas expressões, “castíssimo esposo” e “pai putativo”, soube sintetizar algo de único e extraordinário neste homem, que não era imaculado (como Maria) e mesmo assim, Deus o escolheu para lhe confiar as duas coisas mais preciosas que tinha: o Menino e Sua Mãe.
Aqui está a vocação e missão de José: tomar conta de dois seres tão frágeis e tão divinos, Jesus e Maria, um filho adotado e uma esposa já engravidada pela sombra do Altíssimo. Por isso, José é chamado a amar mais intensamente aquela mulher e a acolher aquele bebé que não lhe pertence, porque tem outro Pai.
Como alguém disse, José “é um pai emprestado”, chamado a exercer a paternidade sobre um filho que não gerou. É neste sentido que consigo entender São José como meu padroeiro e padroeiro de todos “os sacerdotes que são pais emprestados” chamados a tomar conta de filhos e filhas que biologicamente não são seus, mas que lhe são simplesmente confiados.
Há uma bela expressão do Pe. Luís Maria Epicoco que diz: “José teve que amar Jesus como se fosse seu filho, mesmo sabendo que não era seu filho”. Aqui descobrimos o significado do termo “castíssimo” atribuído a São José. Ela torna-se esposo e pai, mas sem possuir. Acolhe Maria como esposa, Jesus como filho, toma conta deles, ama-os intensamente, mas renunciando à posse deles… sem reivindicar direitos, porque este menino e esta mãe não lhe pertencem.
O Papa Francisco desde a primeira hora do seu pontificado, que faz nestes dias 8 anos, aponta para José como o “cuidador” por excelência. E no início deste 2021, pediu-nos para crescermos nesta “cultura do cuidado” para com a nossa casa comum (o ambiente) e para com a nossa família humana (todos Irmãos).
Perante cada situação confusa, difícil, até de violência, com que a família de Nazaré deparou, José soube responder com prontidão, «levantando-se, tomou o Menino e sua Mãe» (Mateus 2,21).
Este poderia mesmo ser o lema para este ano dedicado a José e à família: “levantar e tomar conta de quem nos é confiado”. Em José, todos somos “pais emprestados”!
Este é o segredo da vida cristã: cuidar uns dos outros, sem possuir.