Os aromas do nosso amor

A Palavra de Deus

Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para ir embalsamá-lo. De manhã, ao nascer do sol, muito cedo, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro.

Diziam entre si: “Quem nos irá tirar a pedra da entrada do sepulcro?” Mas, olhando, viram que a pedra tinha sido rolada para o lado; e era muito grande. Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram assustadas.

Ele disse-lhes: « Não vos assusteis! Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado? Ressuscitou: não está aqui. Vede o lugar onde o tinham depositado. Ide, pois e dizei aos seus discípulos e a Pedro: Ele precede-vos a caminho da Galileia; lá o vereis, como vos tinha dito”.

MC 16, 1-7

A palavra de Santo António

As almas fiéis compram aromas da melhor e mais escolhida mirra, cinamomo, cana, cássia e azeite de oliveira e fazem um óleo santo para as unções e um bálsamo composto segundo a arte de um perfumador… E ungirás com ele o tabernáculo do testemunho e a arca do testamento… e o altar dos perfumes e o dos holocaustos (cf. Êxodo, 30,23-28).

Na melhor e mais escolhida mirra designa-se o espírito devoto, a escolha mais importante; no cinamomo, de cor de cinza, a memoria da morte; na cana, a melodia da confissão; na cássia, que se dá em lugares húmidos e se ergue para o alto, a fé, alimentada nas águas do batismo e elevada ao alto pela caridade; no azeite da oliveira, a misericórdia do coração. Destes cinco elementos devemos fazer o bálsamo santo que nos santifique, composto segundo a arte do perfumador, do Espírito Santo.

O tabernáculo do testemunho simboliza os pobres de Jesus Cristo; a arca do Testamento, o coração e o corpo renovado pela penitência; o altar dos holocaustos designa os ativos que socorrem as necessidades do próximo; o altar dos perfumes, os contemplativos, cheios da suavidade da celeste doçura.

Com tal bálsamo, devem ser ungidos os membros de Jesus Cristo, crucificados na cruz da penitência, sepultados no túmulo da vida celeste.

Páscoa do Senhor

Aprofundemos

O caminho das três Marias para o sepulcro, na manhã de Páscoa, é transformado, na palavra de António, num símbolo de oferta espiritual. A razão dessa maravilhosa transformação de um amor espontâneo para símbolos espirituais é sugerida pela memória da unção perfumada do altar do Senhor, no livro do Êxodo 30, 23-28.

De facto, passada a noite de sexta-feira e o repouso de sábado, elas foram imediatamente comprar aromas para embalsamar o corpo de Jesus e, na manhã seguinte, ao nascer do sol, foram ao sepulcro. “Apressavam-se, escreve António, absorviam-se, tal como as abelhas se absorvem na produção de cera e mel”.

O perfume que elas preparam é composto pelas melhores essências aromáticas: mirra, cinamomo, cana, cássia e azeite selecionados. Excelentes aromas, como devem ser os do nosso coração! A mirra é a devoção sincera. O cinamomo, o pensamento da morte. A cana, a melodia da confissão. A cássia é a fé alimentada pelas águas do batismo. O óleo é a misericórdia… Essa mistura é feita por um excelente artesão, o Espírito Santo, que a torna santa e perfeita, digna de ser oferecida no altar de Deus.

Então, o seu significado torna-se claro: o espírito devoto, ou a “devoção”, é a melhor mistura e manifesta-se não apenas com orações e atos de piedade, mas sobretudo com sentimentos e atos interiores e exteriores, isto é, no amor verdadeiro e sincero que vence todos os egoísmos e se expande como um presente de si próprios para Deus e para o próximo.


Foto da capa: Mosaico representando o corpo de Cristo sendo preparado após sua morte, em frente à Pedra da Unção, na Igreja do Santo Sepulcro, no bairro cristão da cidade velha de Jerusalém. Esta igreja antiga ergue-se no local aceite como o lugar da crucificação, sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo. Por aqui passam milhares de peregrinos de todo o mundo, especialmente durante a Semana Santa, o que não irá acontecer este ano, devido à COVID-19. Foto 2018 EPA / ATEF SAFADI.

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