Orgulho ou humildade

A Palavra de Deus

Dois homens subiram ao templo para rezar.
Um era fariseu e o outro, publicano.
O fariseu estava de pé e dizia dentro de si:
“Meu Deus, dou-te graças por não ser como os outros homens…”
O publicano, mantendo-se à distância,
nem sequer ousava levantar os olhos para o céu;
mas batia no peito, dizendo:
“Ó Deus, sê favorável para com o pecador que sou!”
Declaro-vos: quando este último voltou para casa,
era ele quem se tinha tornado um homem justo, e não o outro.
Porque todo aquele que se exalta será humilhado
e quem se humilha será exaltado.

(Lucas 18, 9-14)

A palavra de Santo António

O fariseu está de pé, inflexível como um leão. Fariseu significa “separado”; crendo-se justo, separava-se do publicano dizendo: “Não sou como os outros homens.” Que significa “os outros homens”, senão todos exceto ele? É como se dissesse: “Só eu sou justo, todos os outros são pecadores”.

O publicano estava afastado… Este comportamento deixa em relevo seis atitudes :
– A recordação da sua própria iniquidade. Consciente da sua própria iniquidade, estava à distância, considerando-se indigno de entrar no Templo. O fariseu julgava-se “próximo”, mas ficou longe. O publicano estava afastado e estava próximo.
– A humilhação do espírito e do coração. Não ousava sequer levantar os olhos para o céu. A marca da humildade aparece habitualmente nos olhos.
– A contrição, a confissão, a satisfação. O gesto de bater no peito exprime três coisas: o bater designa a contrição; o ruído do bater, a confissão; a mão, os atos de satisfação. Deus, diz ele, sê favorável para com o pecador que sou! O publicano, na sua humildade, não ousa aproximar-se, a fim de que Deus se aproxime dele; não olha, para ser olhado; bate no peito e exige o castigo para si, para que Deus lhe perdoe; confessa, para que Deus esqueça. Deus ignora o que o próprio pecador reconhece.

Eis quão generosa é a graça do Redentor: o publicano tinha subido ao Templo culpado, desceu justificado; tinha subido pecador, desceu santo.

Aprofundemos

O comentário de António está em harmonia com o espírito da célebre parábola de Lucas. Enquanto este traduz em impressionantes imagens visuais – atitude de pé e desafiadora perante Deus, reserva humilde pela distância e no olhar – os sentimentos opostos do homem que se crê justo, mas parte culpado e do pobre que se reconhece culpado, mas parte justificado diante de Deus, António dá a cada uma destas imagens e a cada um destes gestos o sentido espiritual e moral que constrói a vida do cristão. Podemos reter assim dois ensinamentos.
O sentido das palavras. O significado da palavra fariseu, “separado”, estabelece uma nítida oposição entre duas categorias de pessoas e as suas qualidades morais. O fariseu, intérprete qualificado da Lei, coloca-se do lado dos puros e dos santos; o segundo, pertencendo aos cobradores dos impostos e assimilado pela opinião aos pagãos ou até aos prostituídos, é classificado entre os pecadores. Na realidade, observa António, um torna-se culpado desprezando o outro: “Só eu sou justo, todos os outros são pecadores”, enquanto o outro merece o perdão, porque toma consciência do seu mal e implora o grande favor do perdão.
Gestos e palavras do publicano. Estes gestos e estas palavras lembram a cada cristão a importância e a necessidade do sacramento da penitência através de quatro momentos: a tomada de consciência do mal, a confissão humilde, a reparação e o perdão generoso da parte de Deus.

Da mesma maneira, todo o ato de humildade eleva o homem e todo o ato de orgulho o abaixa.

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