Quando Jesus, na cruz, exalou o último suspiro, o evangelista Mateus anota que “o véu do templo rasgou-se” (Mt 27, 51). Quer dizer, a morte de Jesus fendeu o céu e a terra deixando entrever o poder da nova força que, daqui em diante, iria permear a terra: a força da ressurreição, ou seja, a força do amor que tudo quebra e vence.
O Templo, na altura de Jesus, era o símbolo do poder religioso que, em vez de cumprir a sua missão de libertação e de justiça, se tinha tornado um poder de opressão. O “rasgar do véu do templo”, portanto, significa que com a ressurreição de Jesus Cristo já não há nada que nos possa separar d’Ele, da Vida.
Esta anotação evangélica traz esperança e luz para a situação que o mundo, hoje, está a viver, devido à guerra absurda da Rússia contra Ucrânia. Na verdade, diante de uma decisão de recorrer às armas para fazer valer os próprios “direitos”, assistimos a um descalabro de destruição e de morte que atinge todos. O Papa Francisco, numa das suas numerosas intervenções em favor da paz, afirma:
Com a guerra tudo se perde. Não há vitória numa guerra: tudo é derrotado. A guerra é uma derrota para a humanidade. Rezemos para que o Espírito do Senhor nos liberte a todos desta necessidade de autodestruição, que se manifesta através do desencadear da guerra, e trabalhemos em conjunto pela paz ou, como diz a Bíblia, para fazermos das armas instrumentos para a paz.
É verdade: mete tristeza, este ano, celebrar a Páscoa sobre os escombros das destruições e com as feridas ainda abertas que deixam escorrer sangue e lágrimas; porém, o rasgo de luz e de esperança que se levanta do túmulo vazio de Cristo não deixa dúvidas: “A morte está vencida, Aleluia! Cristo Ressuscitou e nós com Ele! Aleluia!”.
Queremos aqui deixar o nosso agradecimento pelo exemplo de coragem e de fé que o povo ucraniano demonstrou e continua a demonstrar nesta dolorosa circunstância. Certamente, a fome de liberdade, de justiça e de amor para a sua terra são já sinais fecundos de ressurreição.
Oxalá a foto do mural, representando o abraço que uma mulher russa e outra ucraniana trocam em tempo de guerra, seja o símbolo de um futuro promissor, onde já não há inimigos, mas irmãos e irmãs que se abraçam e, juntos, lutam por um mundo melhor.
Santa Páscoa para os nossos leitores e amigos e para os homens todos que Deus ama!
Foto: Arte de rua do artista Laika, mural na cidade de Roma, Itália, no Dia Internacional da Mulher, 08 Março 2022. EPA/RICCARDO ANTIMIANI.