O santo dos objetos perdidos

A ligação de Santo António com os objetos perdidos é já antiga e é um dos muitos padroados que Santo António foi herdando ao longo dos séculos.
Outros santos eram também evocados para esta proteção, como por exemplo, São Longuinhos, São Pascoal, Santo Espiridião, São Cipriano, São Rosendo ou mesmo São Vicente, mas Santo António irá destacar-se e popularizar este atributo.

Em 1557, Marcos de Lisboa no seu livro Crónica dos Frades Menores, apresenta inúmeros relatos da intercessão de Santo António na recuperação de objetos perdidos, tanto em Portugal como em Espanha e Itália, entre os quais Santo António se serviu de pescadores e de peixes para recuperar anéis.

No nártex da igreja de Santo António do Estoril, o painel de azulejos do lado direito ilustra a recuperação do anel de ouro que um nobre de Taranto (Itália) tinha perdido quando passeava de barco com alguns amigos. Sendo devoto de Santo António, foi ao convento franciscano contar a sua infelicidade e os frades aconselharam-no a que rezasse a Santo António; por seu lado, os frades iriam rezar uma missa. Durante a missa, o nobre foi ao mercado comprar um grande peixe que enviou para o convento, a título de agradecimento. Assim que o cozinheiro abriu o ventre do peixe, encontrou o anel perdido.

Em Lisboa, por alvará régio de 21 de junho de 1628, foi determinado que todos os papéis perdidos e encontrados pela cidade fossem entregues na igreja de Santo António “por ser sancto que descobria as cousas perdidas” (Arquivo Histórico de Lisboa, Livro 1º de Filipe III, f. 121 e 121v).

Mas um dos mais curiosos testemunhos é relatado na Crónica Seráfica da Santa Província dos Algarves, de 1750, que conta que, em 1376, no convento de São Francisco de Évora, os ossos dos fundadores foram escondidos atrás de uma parede da capela de Santo António para que não fossem roubados. Com o passar dos anos perdeu-se a memória do local onde estariam estas relíquias, pelo que, em 1629, os frades “recorreram à piedosa intercessão de Santo António, para que, como advogado das coisas perdidas, lhes deparasse a perda que sentiam. Mandou o Guardião cantar uma Missa ao Santo, em 24 de abril, e antes que ela se acabasse, caiu por si a parede e na sua mesma ruína apareceram os ossos dos Veneráveis Fundadores”. Como agradecimento, ficou a tradição de se cantar a Santo António depois da missa conventual.

Foto: Igreja de Santo António do Estoril, O milagre do anel encontrado dentro de um peixe.
Oficina de Lisboa, c. 1750. © Nuno Gonçalves/Museu de Lisboa – Santo António

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