O perfil “sinodal” de Jesus

Um Sínodo para todos os Continentes, que passe a pente-fino todas as Dioceses do mundo, eis a ousadia do Papa Francisco. Em pleno 8º ano do seu pontificado, o Papa ousa cortar mais fundo na reforma da Igreja lançando o tema da sinodalidade na convicção de que este “é o caminho que Deus espera da Igreja do 3º milénio”, como ele mesmo disse no Discurso de Comemoração do 50º Aniversário da Instituição do Sínodo dos Bispos, a 17 de outubro de 2015.

O Papa, mesmo reconhecendo que a Assembleia Sinodal é um dos grandes frutos do Concílio Vaticano II, quer que se torne um “estilo de Igreja” alargando a escuta a todos os batizados, para captar o sensus fidei do povo de Deus. Daqui as três palavras chave dinamizadoras de toda a caminhada sinodal: comunhão, participação, missão. Muitas dioceses e paróquias puseram-se já em andamento, contudo não será fácil trilhar este caminho de “conversão sinodal” nas nossas comunidades cristãs.

Estou a ler o livro Jesus segundo o Novo Testamento que alguém teve a amabilidade de me oferecer, cujo autor, o biblista britânico James D. G. Dunn, a partir do testemunho dos autores do Novo Testamento – evangelistas e apóstolos – procura dar a conhecer a figura de Jesus Cristo. Achei curioso o capítulo intitulado “Jesus segundo Jesus”, porque, pensei, dá-nos a possibilidade de reconstruir aquele que poderíamos chamar, o “perfil sinodal de Jesus”. Jesus, que caminha junto com os seus discípulos, que escuta e encontra, que chama e anuncia a Boa Notícia do Reino, oferece-nos algumas orientações para um “estilo sinodal” da Igreja do nosso tempo.

As 7 dicas sinodais de Jesus

Primeira dica sinodal: o mandamento do Amor no centro!

Todos os autores do Novo Testamento, dos quatro evangelistas a São Paulo, concordam em afirmar que o coração da mensagem e do estilo de vida de Jesus é o mandamento do amor: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei!”; “amai os inimigos!”; “chamei-vos amigos e não servos!”.

Segunda dica sinodal: a preferência pelos pobres!

Jesus na sinagoga da sua terra faz questão em dizer que o Espírito o consagrou para anunciar a boa nova aos pobres e, no seu ministério, exalta os pobres de espírito (Bem-aventuranças), elogia os pobres (a viúva anónima no templo) e desafia os ricos a deixar tudo aos pobres para segui-lo (Mc 10,21).

Terceira dica sinodal: os pecadores são bem-vindos!

Jesus manifesta uma abertura extraordinária e única, para com aqueles que eram considerados inaceitáveis para a comunidade farisaica. Entra em casa de Zaqueu; participa no banquete de despedida de Levi cobrador de impostos, depois de tê-lo chamado a ser seu discípulo; narra parábolas para justificar que Ele veio para procurar os pecadores e tresmalhados…

Quarta dica sinodal: abertura aos gentios e não-crentes!

Os evangelistas Mateus e Lucas, rivalizam em apresentar a universalidade do Evangelho de Jesus: “Muitos virão do Oriente e do Ocidente e sentar-se-ão à mesa do reino do Céu…” (Mt 8,11). Enquanto o apóstolo Paulo teve que defender com unhas e dentes a sua missão evangelizadora no meio dos gentios, na fidelidade ao mandato de Jesus!

©fizkes - stock.adobe.com
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Quinta dica sinodal: a presença ativa das mulheres entre os seguidores de Jesus!

As mulheres acompanharam Jesus no seu caminho e ministério público, até ao momento mais dramático e perigoso: a paixão de Jesus. Havia três mulheres identificadas a assistir à crucificação (Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e José, Salomé), mais “muitas outras mulheres… que tinham ido com Jesus a Jerusalém” e apenas um homem: João, o discípulo amado. Os discípulos masculinos de Jesus parecem tê-lo abandonado!

Sexta dica sinodal: as crianças no centro!

Também neste caso Jesus vai a contracorrente: os apóstolos repreendem as pessoas que tentavam fazer chegar a Jesus as crianças; e Jesus – conforme o relato de três evangelistas – reage indignado, dizendo: “Deixai vir a mim as crianças!”.

Sétima dica sinodal: Só o que sai de dentro torna o homem impuro!

A sétima e última dica sinodal tem a ver com o tema da pureza e impureza que nasce do rigor tradicional judaico. Jesus denuncia a hipocrisia e a fachada: “Não é o que entra na boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca” (Mt 15,11). Porém, Marcos é mais mordaz: “O que sai de dentro da pessoa” (Mc 7,15).

Sem dúvida poderíamos encontrar mais orientações para um caminho sinodal a partir do exemplo de Jesus. Contudo, estas sete dicas parecem-me muito desafiadoras para as nossas comunidades eclesiais: centrarmo-nos no mandamento do amor a Deus e ao próximo; na escolha preferencial pelos pobres; no papel das mulheres; na centralidade dos pequenos; no acolhimento aos irregulares; na escuta e no diálogo com os não crentes; na luta contra o clericalismo e ritualismo.

O caminho sinodal é o caminho da Igreja no mundo que, como Cristo, se deixa interpelar pelo humano semeando uma palavra nova, semeando uma palavra de salvação.

Foto da capa: Jesus com os 12 Apóstolos, na Casa da Galileia. Foto 2011, Avishai Teicher | PikiWiki – Israel free image collection project | Commons Wikimedia.

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