O pão da fraternidade

Chegamos ao fim de mais um ano pastoral, 2020-2021, em que, aos poucos, procuramos “conviver” com as mudanças provocadas pela entrada da Covid-19 na nossa vida pessoal, comunitária e global. É claro que já não somos as mesmas pessoas de há dois anos atrás, contudo ainda não sabemos bem como será e quem seremos no futuro que aí vem.

Continuamos a viver e a esperar, procurando evitar cair no fatalismo pessimista de quem vê tudo negro à sua volta e se refugia em soluções fáceis pensando assim encontrar abrigo numa ilha segura.

Esperar significa ser sentinela que perscruta os sinais que surgem no horizonte deste “tempo frágil” e que acolhe os desafios que flutuam no meio das ondas da tempestade. Na festa de Santo António, distribuímos o “pão de Santo António”, uma tradição em tantas igrejas franciscanas pelo mundo fora. Mas o que significa afinal este gesto?

Significa partilha, proximidade, caridade e generosidade para com os mais pobres. Mas deve significar algo mais… É preciso lembrar que este pão de Santo António é também o “pão da fraternidade”, o pão para tornar visíveis (retirar da invisibilidade) os pobres, para lhes dar um nome e um rosto.

Acabou a festa de Santo António e no dia a seguir leio a mensagem do Papa Francisco para o V Dia mundial dos Pobres, carta assinada no próprio dia 13 de Junho, alertando que a pandemia “multiplicou ainda mais o número dos pobres”:

Não podemos ficar à espera que [os pobres] batam à nossa porta; é urgente ir ter com eles às suas casas, aos hospitais e casas de assistência, à estrada e aos cantos escuros onde, por vezes, se escondem, aos centros de refúgio e de acolhimento…

E, citando o Padre Primo Mazzolari, conclui:

Gostaria de pedir-vos para não me perguntardes se existem pobres, quem são e quantos são, porque tenho receio que tais perguntas representem uma distração ou pretexto para escapar duma específica indicação da consciência e do coração. (…) Os pobres, eu nunca os contei, porque não se podem contar: os pobres abraçam-se, não se contam. (Revista Adesso, n.º 7, 15 de abril de 1949). Que o “pão da fraternidade” sacie a nossa fome de encontro, de diálogo, de abraços, de olhares, de que todos precisamos.

Foto da capa: Safet Zec, Pão nas mãos, têmpera, colagem em papel sobre tela, 2016, in https://www.facebook.com/zecsafet/.

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