Edoardo e Chiara Vian
Santo António manifestou uma grande solicitude e carinho pelas famílias. No mês de junho, por ocasião da sua festa, queremos escrever sobre esta faceta de António.
Tomaremos como pano de fundo três frescos que se encontram no Santuário da Nogueira, em Camposampiero, perto de Pádua. A graciosa igrejinha surgiu no local onde, segundo reza a tradição, havia uma nogueira, sobre a qual tinha sido construído um refúgio que permitia ao Santo retirar-se para rezar e descansar. Os frescos recordam três milagres do Santo.
O primeiro milagre refere-se a um acontecimento particular. O marido tinha acusado publicamente a esposa de ter dado à luz um filho que não era seu. Neste caso, Santo António consegue deslindar a disputa familiar, pedindo ao próprio recém-nascido para indicar quem era o pai e o pequeno aponta precisamente para o homem que duvidava que fosse o pai.
Neste episódio, o Santo ajuda a repor a verdade onde havia uma distorção da mesma. É evidente que este homem tinha feito juízos incorretos, talvez porque se sentisse inseguro, talvez porque achasse que o filho não se parecia com ele ou outra coisa qualquer, mas o certo é que cometeu o erro muito comum de confundir as próprias percepções com a realidade, transformado uma suposição numa verdade.
Não nos acontece também a nós pensarmos que a esposa ou o marido não nos ama, que os filhos nos odeiam, que todos nos enganam, mas será que estas nossas suposições correspondem à verdade? Muitas vezes os casais acusam-se reciprocamente que o outro não se importa com o seu bem, sem se preocuparem que talvez o parceiro esteja igualmente em dificuldade. É claro que nós medimos as coisas a partir da nossa visão do mundo, mas não devemos confundi-la com a verdade: apesar de acreditarmos sinceramente nalguma coisa (como aquele homem em relação ao filho), isso não significa que tal seja verdade (como, efetivamente, o Santo depois demonstrou).

O segundo milagre representa a cura do pé de um jovem. Este jovem, depois de ter confessado ao Santo que tinha dado um pontapé à mãe, ouviu como resposta que teria sido melhor cortar o pé causador de tamanho pecado. O jovem entendeu as palavras à letra e, uma vez chegado a casa, cortou o pé. Então a mãe, apesar da ofensa recebida do filho, foi ter com António para ele resolver os efeitos do excesso de zelo do jovem.
Neste caso, o quadro realça um outro tipo de reconciliação familiar: um jovem fogoso que vive de forma exaltada as suas emoções e uma mãe humilhada que o salvará. Com o milagre do pé curado, Santo António está a indicar-nos que, nos conflitos familiares, a questão central não é a punição, de si próprio ou do outro, mas a misericórdia; a solução não é apontar ou guardar as ofensas recebidas, mas reconciliar-se com o outro e começar de novo, com amor, uma e outra vez. Amar é regenerar infinitas vezes o nosso relacionamento ferido.
O mesmo acontece com o Pai quando nos reconciliamos: Ele pede-nos para cortarmos em nós aquilo que nos leva ao mal e diz-nos que, como filhos perdoados, podemos colocar de novo a veste gloriosa do amor.

O último milagre é o sermão aos peixes. Na cidade de Rimini, os habitantes não queriam ouvir o anúncio evangélico que António proclamava.
É o que acontece connosco: quantas vezes, como casal, sentimos que não somos escutados pelo marido, pela esposa, pelos filhos ou pelos pais? E quantas vezes, por outro lado, não sou eu o primeiro a não prestar atenção ao outro e não porque não me interesse o que ele está a dizer, mas porque estou distraído ou ocupado com outras coisas? O santo, que é um admirável pregador, não se chateia nem grita contra aqueles que não o escutam, mas, simplesmente, muda de destinatários e, ao pregar aos peixes que se reuniram para ouvir as suas palavras, ganha também a atenção dos habitantes da cidade.
Se a Clara (ou o Eduardo) não me ouve porque está ocupada noutra coisa, é inútil insistir, pois só sou vou piorar a situação. O melhor será virar-me para outra coisa, talvez “para o alto”, esperando outra oportunidade para me fazer ouvir. A paciência é a outra face do amor: o outro não está disponível sempre e só para mim.
Santo António obrigado pelo teu testemunho e pelo teu amor à família. Continua a interceder, junto do Pai da misericórdia, por todas as famílias, especialmente aquelas que experimentam o cansaço e a divisão.
Foto da capa: O milagre do recém nascido. Girolamo Tessari, chamado Do Santo, sec. XVI, Santuário da Nogueira, Camposampiero. Giorgio Deganello | Arquivo MSA.
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