O Estreito de Magalhães

A viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães concluída por Juan Sebastián Elcano, após a morte daquele na ilha de Mactan, em 27 de Abril de 1521, constituiu um dos maiores feitos náuticos da história da humanidade, facto unanimemente reconhecido pela generalidade dos historiadores nacionais e estrangeiros.

Efetivamente, a viagem de 42.000 milhas, das quais 22.000, por rotas desconhecidas, pode dizer‑se que fecha, pela mão de um português, embora ao serviço do Rei de Espanha, Carlos V, o ciclo de viagens iniciadas pelos navegadores portugueses que pôs termo ao conceito medieval do Universo.

A descoberta de uma passagem que ligasse o Atlântico a um mar então desconhecido era um projeto que navegadores portugueses e espanhóis vinham acalentando desde a descoberta da América por Cristóvão Colombo. Na verdade, desde 1501 que os portugueses exploravam a costa oriental do Brasil até à Patagónia argentina ou talvez ainda mais ao sul, esquadrinhando enseadas e baías na esperança de encontrar a tão desejada passagem. Por outro lado, Balboa, do cume dos Andes, havia descoberto um mar que batizara de “Mar do Sul”. Agora, por experiência própria, sabia-se que a América não estava ligada à Ásia existindo um vasto oceano, entre a costa oriental da Ásia e a costa ocidental das novas terras.

Desde que foi atravessado oficialmente em 1520, o Estreito de Magalhães constituiu-se como um foco de Modernidade servindo para reconfigurar e criar outras territorialidades. Nesse sentido, a descoberta do Estreito está diretamente ligada a uma série de idealizações do mundo. Numa escala macro, a descoberta desta ligação entre o Atlântico e o Pacífico foi decisiva para uma nova conceção da Terra. De facto, quase não há representações cartográficas do Estreito que não estejam associadas a imagens do planeta ou do mapa do mundo no século XVI.

Na verdade, não se tratava apenas de numa nova conceção da Terra, mas também da descoberta de um novo mar que entrou decisivamente no jogo geopolítico das potências europeias. Contudo, o fluxo de gente e de navios europeus que navegavam por aquela passagem marítima entre o Atlântico e o Pacífico foi diminuto até às décadas finais do século XVIII. Os colonizadores espanhóis preferiam atravessar o continente por terra a enfrentar as correntes e ventanias do Estreito. De facto, as incursões por terra, pela Patagónia e pela Terra do Fogo, mantiveram durante muito tempo a região envolta numa série de lendas.

Evitado pelos colonizadores espanhóis, o Estreito de Magalhães passou a ser gradualmente mais visitado à medida que cresciam os fluxos comerciais e populacionais entre a Europa e o Extremo Oriente, em especial com a China e a com a Índia, para onde eram vendidos produtos exóticos e de onde se importavam cada vez mais produtos de luxo como a seda, a porcelana e o marfim.

Mais tarde, a Revolução Industrial colocou o Estreito no mapa das prioridades das potências ocidentais, pois, a busca por novos mercados e a ampliação dos antigos, incentivou o aumento da presença dos europeus naquelas paragens. Por sua vez, a evolução tecnológica na área da navegação proporcionou e impulsionou novas viagens de exploração que procuravam conciliar os interesses estratégicos, comerciais e científicos.

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