A Palavra de Deus
Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, sentou-se e os seus discípulos aproximaram-se; e Ele começou a ensiná-los, dizendo:
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. …
Mateus 5 , 1-9
A palavra de Santo António
As sete lâmpadas representam as sete bem aventuranças e as sete almotolias representam as sete palavras pronunciadas por Jesus na cruz.
— Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem (Lc 23, 34).
— Em verdade te digo, hoje mesmo estarás comigo no Paraíso (Lc 23, 43).
— Mulher, eis aí o teu filho; depois diz ao discípulo: “Eis aí a tua mãe” (Jo 19, 26-27).
— Eli, Eli, lema sabactani? Que quer dizer: Meus Deus, meu Deus, porque me abandonaste? (Mt 27, 46).
— Tenho sede! (Jo 19, 28).
— Tudo está consumado! (Jo 19, 30).
— Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito (Lc 23, 46).
Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Aquele que é misericordioso para com os outros, também Deus será misericordioso para com ele.
Aqueles que condenaram Cristo não forma misericordiosos quando Ele teve sede, não lhe deram água fresca, mas vinagre com fel. Agindo assim com Cristo, os falsos cristãos, são piores do que os que estavam ao pé da duz; deste modo não obterão misericórdia no dia da tribulação.
Por isso o Senhor se queixa dizendo: “Esperava que a minha vinha me desse uvas, mas só me deu agraços. Esperava o direito e só vejo iniquidade; esperava justiça e só vejo gritos de terror” (Is 5, 3-7). Os agraços são as obras do pecador, a iniquidade da avareza, os gritos da luxúria, que serão arrancados no dia do julgamento.
Aprofundemos
Santo António tem a arte de falar sobre as realidades mais sérias, empregando imagens muito concretas tiradas da vida cotidiana. Assim, para falar da misericórdia divina, evoca o uso do vinho e sua transformação quando se estraga e se torna vinagre.
Inicialmente o vinho é ácido e deve ser purificado; é a imagem do batismo do infiel: “Antes do batismo, ele era selvagem e ácido, porque era infiel. Uma vez recebido o batismo tornou-se como vinho perfumado, isto é, perfumado pela fé”. Mas António não esquece que o batizado continua sendo um pecador e quem vive em pecado mortal é como o vinho estragado, transformando-se em vinagre, como um vinho que se tornou ácido ou misturado com água. E o exemplo dado por António diz respeito diretamente ao prazer carnal: “Quando um crente se mistura com a água do prazer da carne, ele imediatamente se transforma em vinagre de pecado mortal, vinagre que o pecador dá a beber a Cristo”. O pecado é ainda maior porque Cristo não está apenas suspenso da cruz, mas já reina no céu.
Com palavras bem escolhidas sobre o uso do vinho, António fala-nos da vida dos batizados e dos excessos que podemos cometer. Ele cita o profeta Isaías que anunciou antecipadamente: “Esperava que a minha vinha me desse uvas, mas só me deu agraços”. E detalha os frutos desta uva ruim: “a iniquidade da avareza e os gritos da luxúria”.
A lição a ser tirada para nossa vida é a de agir com sabedoria e prudência, mantendo na sua pureza o bom vinho do nosso batismo para evitar que ele se estrague e perca o seu perfume. E o pecador, que quer reencontrar a pureza do coração, sabe que pode contar sempre com o perdão de Jesus, o Vivente.