Quando falamos de vocação sabemos que aquele que é chamado tem de enfrentar medos e dúvidas. Para responder à vocação há que ir além do medo e da suspeição de um Deus que parece pedir que renunciemos à felicidade. Apresento-vos frei Ettore, um jovem frade de 28 anos, estudante de teologia, em Assis.
Quando começaste a interrogar-te acerca da tua vocação?
Aos dezassete anos senti necessidade de procurar a razão do meu ser crente, porque já não me bastava justificar tal escolha com base na tradição. Surgiu o desejo de uma experiência pessoal, comecei a frequentar os encontros diocesanos para jovens e, através do meu melhor amigo, um grupo do Renovamento Carismático.
O que encontraste nesse grupo?
Aquilo que me atraiu foi antes de mais a beleza de estar juntos! A minha vida floresceu num caminho de fé, numa relação afetiva significativa. Encontrei uma paz e uma serenidade muito grandes.
Sentiste sempre essa paz e serenidade?
Não. Tal serenidade foi interrompida por uma pergunta inesperada: “Chamas-me a seguir-Te de modo especial, Jesus?”. Não conseguia acolher esta eventualidade porque me parecia um pedido de renúncia à felicidade que vivia naquele momento. Arrefeci na confiança e continuei a minha vida normal “enterrando” a provocação recebida, acomodando-me sempre cada vez mais.
O que te fez “desinstalar” de novo?
O Senhor pôs no meu caminho pessoas casadas e consagradas, que gritavam ao meu coração a realidade da minha insatisfação e a necessidade de luz sobre a minha vocação.
Foi aí que entraste para o convento?
Não. Não consegui dar o passo que sentia ser demasiado grande naquele momento e tomei de novo as “rédeas” da minha vida, com a presunção de poder “construir” com as minhas forças um caminho de felicidade alternativa àquela que Ele me propunha.
O que aconteceu a seguir?
Uma forte desilusão nos meus estudos de engenharia mecânica despertou-me e obrigou-me a pensar na vida. Retomei uma sincera procura na fé, que teve uma reviravolta determinante na descoberta de Maria. Comecei assim um caminho de discernimento vocacional com um frade conventual, o qual me envolveu na “evangelização de estrada”, em Perugia. E, em 2015, iniciei o postulantado em Osimo, onde tive a graça de conhecer o frei Nando Rocchi, acamado por problemas de saúde e com o qual criei amizade. Com ele experimentei que “o amor simples” pelo próximo é fonte de consolação, caminho privilegiado de cura do coração e uma verdadeira ocasião de conversão.
Agradeço a Deus pelo dom do noviciado que me permitiu fazer maior luz sobre mim próprio, crescer na intimidade com Ele e conhecer melhor São Francisco.