O presbítero espanhol Pablo d’Ors tornou-se mais conhecido entre nós pela publicação em Portugal, em 2014, do seu livro A Biografia do Silêncio, na qual relata a sua aproximação a uma vida de oração silenciosa e meditativa, no seio dos ritmos e ocupações do dia a dia. Com uma profunda formação e capacidade literária, Pablo d’Ors conhece também a escrita novelística, da qual O Amigo do Deserto é um bom exemplo.
Publicado originalmente em 2005 e agora traduzido em português, O Amigo do Deserto relata, na primeira pessoa, a vocação ao silêncio e o encontro com a Associação Amigos do Deserto, que Pablo d’Ors fundaria mais tarde, em 2014. Trata-se de um relato naturalmente autobiográfico, que traduz o desejo do autor do encontro com o Mistério que pede o baixar das defesas da linguagem, dos protocolos sociais e das falsas imagens sobre nós próprios que povoam o nosso pensar e agir. Numa tradição antiquíssima da Igreja, que remonta aos primeiros séculos com os Padres do Deserto e que encontra um nome mais recente em Charles de Foucauld, a busca do deserto físico e espiritual é transposta agora para a cidade, para o exercício diário da meditação silenciosa, onde os crentes se encontram para lá das suas confissões, práticas e denominações religiosas. Uma leitura profunda e agradável, que permanecerá para o leitor como um convite latente e sibilante ao silêncio.
Finalmente tinha compreendido que essa terra a que chamamos deserto era necessária para mim, talvez para todos. Que todos, ou pelo menos eu, precisamos de pôr os olhos e o coração num espaço amplo e num horizonte que não termine. Só assim descansam os olhos, acho eu; só assim descansa o homem, tenho a certeza. A vastidão do deserto curou feridas cuja existência ignorava.
O amigo do deserto
Autor: Pablo d’Ors
Edição: Quetzal
Páginas: 184