Novos caminhos de conversão eclesial

O Documento Final da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazónica já foi votado e está já disponível para a leitura e o estudo.

A reflexão desenvolvida neste encontro sinodal parece-me não ter só a ver com um determinado território. É verdade que o título do encontro − Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral − refere explicitamente a região da amazónia, mas, no meu entender, refere-a como o local onde e a partir do qual se podem pensar os novos caminhos para a Igreja e para a uma ecologia integral.

O nº 19 do Instrumento de Trabalho (documento de trabalho que serviu de base à reflexão desenvolvida) parece-me legitimar esta leitura:

Na Amazônia, a vida está inserida, ligada e integrada no território que, como espaço físico vital e nutritivo, é possibilidade, sustento e limite da vida. Além disso, podemos dizer que a Amazônia – ou outro espaço territorial indígena ou comunitário – não é somente um ubi (um espaço geográfico), mas também um quid, ou seja, um lugar de sentido para a fé ou a experiência de Deus na história.

A Amazónia é, sem dúvida, um lugar concreto, mas não é somente um espaço geográfico, ela é também um lugar de sentido para a fé a partir do qual procurar os novos caminhos de conversão a que somos convocados.

Os 5 capítulos do Documento Final

Protestos no Perú contra a exploração mineira que ameaça o santuário de Qoyllurity, Património Mundial da UNESCO. Foto: 2016, EPA/ ANDINA/ Percy Hurtado.
Protestos no Perú contra a exploração mineira que ameaça o santuário de Qoyllurity, Património Mundial da UNESCO. Foto: 2016, EPA/ ANDINA/ Percy Hurtado.

É, pois, nessa linha que leio as reflexões desenvolvidas no Documento Final já referido. O mesmo consta de 5 capítulos.

No primeiro, intitulado Amazónia: da escuta à conversão integral, somos convidados a uma verdadeira conversão integral, com uma vida simples e sóbria (cf. nº17), que se deve concretizar em quatro dimensões fundamentais, desenvolvidas ao longo dos quatro capítulos seguintes.

O capítulo 2 aponta-nos novos caminhos de conversão pastoral:

Queremos ser uma Igreja amazónica, samaritana, encarnada ao modo como o filho de Deus encarnou: assumiu as nossas enfermidades e carregou as nossas doenças (Mt 8, 17b). Ele que se fez pobre para enriquecer-nos com a sua pobreza (2Cor 8, 9), por meio do seu Espírito, exorta os discípulos missionários de hoje a sair ao encontro de todos, especialmente dos povos indígenas, os pobres, os excluídos da sociedade e outros.

(nº 22)

O capítulo 3 refere-se aos novos caminhos de conversão cultural:

A nossa conversão deve também ser cultural, abrir-nos ao outro, aprender do outro. Estar presentes, respeitar e reconhecer os seus valores, viver e praticar a inculturação e a interculturalidade no nosso anúncio da Boa Notícia.

(nº 41)

O capítulo 4 destaca os novos caminhos de conversão ecológica:

Com a ecologia integral emerge um novo paradigma de justiça já que uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres.

(nº 66)

Mais à frente, e ainda no contexto desta conversão ecológica, afirma-se explicitamente que

a defesa e promoção dos direitos humanos não é meramente um dever político ou uma tarefa social, mas também e sobretudo uma exigência da fé.

(nº 70)

Finalmente no capítulo 5 sublinham-se os novos caminhos de conversão sinodal:

Para caminhar juntos a Igreja de hoje necessita de uma conversão à experiência sinodal. É necessário fortalecer uma cultura de diálogo, de escuta recíproca, de discernimento espiritual, de consenso e comunhão para encontrar espaços e modos de decisão conjunta e responder aos desafios pastorais. […]. A sinodalidade é uma dimensão constitutiva da Igreja. Não se pode ser igreja sem reconhecer um efetivo exercício do sensus fidei de todo o Povo de Deus.

(nº88)

Fortalecer uma cultura de diálogo, de escuta recíproca, de discernimento espiritual, de consenso e comunhão

Sinceramente parece-me que o caminho está claramente assinalado. No tempo histórico que estamos a viver, a Igreja, não só a Igreja amazónica mas toda a Igreja, é convidada a percorrer estes caminhos, estando não só preocupada com a sua renovação, mas também com o contributo que é chamada a dar, que não pode deixar de dar se quer permanecer fiel à sua identidade e missão, para a construção de um mundo melhor, para a edificação de uma casa comum que possa verdadeiramente ser um lar para todos.

O tempo de advento/natal que já estamos a viver é bem o testemunho e sinal de esperança de que esses novos caminhos podem e devem ser percorridos.

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