Missão na Venezuela

Tiago Figo

A Custódia Provincial “Nuestra Señora de Coromoto” (OFMConv Venezuela) aceitou, muito generosamente, receber-me para uma experiência missionária fora do meu país e continente.

Fiz o pedido nesse sentido, após um período de convivência vocacional com os Frades Menores Conventuais em Portugal. Parti sem grandes seguranças quanto ao que encontraria e me seria pedido do outro lado do oceano, mas com a convicção de que lá valeria a vontade d’Aquele que verdadeiramente me elegeu e me enviou (Jo 15,16 e 20,21).

Foi preciso estar disposto a reinventar-me e redescobrir-me ao longo desta jornada. A minha experiência foi preenchida, sobretudo, de momentos para ver, escutar e conhecer.

Fiquei com a imagem de um país onde cabe tanta coisa diferente e onde cada região tem as suas especificidades. Fiquei com uma impressão da realidade económica, social… e até da política, de que já ninguém quer ouvir falar! Fiquei com um retrato de uma outra cultura, mais jovem, espontânea, alegre e muito matriarcal.

Lembro os amigos que se fizeram e por cujas casas entrávamos literalmente adentro. Lembro todas as pessoas que tiveram gosto em me mostrar o que de melhor têm e que foram incansáveis em saber se algo me faltava. Lembro os que por nada desejam largar o seu país e que sofrem com a ausência de seus familiares emigrados. Lembro quem já resistiu muito – e continua a resistir – em filas; quem quase se resigna com o pouco que tem e está habituado a ter de improvisar uma solução. No meio desta aprendizagem, problemas como as falhas no abastecimento de luz ou de água acabam por ser acessórios.

Fui privilegiado por poder viver entre os freis, que me trataram como um irmão e me marcaram através das suas histórias e percursos. Foi interessante constatar a diferente vocação e identidade de cada um, num ambiente em que se respira a “loucura do Divino”, como diria o nosso Padre Américo.

Tentei acostumar-me a outros ritmos e tempos. E, com a ajuda da oração, procurei compreender que a missão não está em ter jeito para certa ou determinada coisa, mas antes em nós mesmos, enquanto projeto único de Deus. Justamente, escreveu o Papa Francisco, na sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2018, “Todo o homem e mulher é uma missão e esta é a razão pela qual se encontra a viver na terra”.

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