Medo da Liberdade

Erich Fromm (1900-1980) é hoje considerado como um dos nomes principais da Psicologia enquanto ciência do século XX, nos campos da psicologia social e da psicanálise. A sua condição de exilado da Alemanha nazi moldou muito do seu pensamento e da sua prática clínica, estando na origem deste livro, Medo da Liberdade, publicado em 1941.

Aqui reflete sobre o conjunto complexo de fatores que estão na origem dos regimes autoritários europeus, indo além das explicações de caráter económico ou político: para Fromm, é no coração da identidade do ser humano enquanto ser de angústia, moldado pelo medo da solidão e da liberdade, que se explica o seu desejo de ligação a uma autoridade superior, personificada num ditador. Diz o Autor:

Medo da Liberdade é uma análise do fenómeno da angústia do homem gerada pela rutura do Mundo medieval no qual, apesar de muitos perigos, ele se sentia seguro e protegido. Após séculos de lutas, o homem conseguiu construir uma riqueza inimaginável de bens materiais; construiu sociedades democráticas em várias partes do mundo e, recentemente, saiu vitorioso da sua defesa contra novos sistemas totalitários; no entanto, como a análise de Medo da Liberdade tenta mostrar, o homem moderno continua angustiado e tentado a ceder a sua liberdade a todos os tipos de ditadores, ou a perdê-la, transformando-se numa pequena engrenagem da máquina, bem alimentado e bem vestido, mas não um homem livre e, sim, um autómato (p. 15).

Fromm coloca em paralelo o processo de emergência identitária de uma criança – com a sua progressiva desvinculação da mãe e consciência enquanto ser individual situado num mundo – com o processo de emergência histórica da Humanidade, marcado pelas tensões entre os instintos animais de sobrevivência e a capacidade de criação de cultura e de liberdade.

Esta consciência da pessoa enquanto ser livre e individual acarreta consigo a angústia da separação e da sobrevivência.

Como bom psicólogo clínico, Fromm não receia em trazer à linguagem as imagens, pulsões e movimentos que bloqueiam a nossa liberdade e ensombram a nossa personalidade. Conhecendo-os, seremos capazes de estar atentos e vigilantes (uma característica da vida cristã) perante todos os movimentos sociais que, em nome da nossa segurança e conforto, truncam a nossa liberdade (sejam os movimentos políticos, como também económicos, partidários, como de consumo).

Percorrer as páginas lúcidas e difíceis de Medo da Liberdade ajudará o leitor, certamente, a compreender de uma maneira nova a proclamação de Paulo: “Foi para a liberdade que Cristo vos libertou” (Gl 5, 1).

“Perdido o Paraíso, o homem não pode regressar. Só há uma solução possível e produtiva para a relação do homem individualizado com o mundo: a sua solidariedade ativa com todos os homens e a sua atividade espontânea, o amor e o trabalho, que voltam a uni-lo ao mundo, não por meio de laços primários, mas como indivíduo livre e independente” (p. 52).

Obra: Medo da Liberdade
Autor: Erich Fromm
Edição: Edições 70
Páginas: 304

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