Luz no Natal

Pela janela do meu planeta entra a luz que o enche de vida.
É uma janela admirável, debruada com pôr-de-sóis, alvoradas e outros fenómenos luminosos.

Por ela entra a Luz Solar com que “retino” e admiro os dias terrestres. Por ela vejo outros pontos irradiadores e refletores de luz quando, por ausência ou diminuição da primeira, me encho de noite, me tapo com ócio, ou me deslumbro com o que estava ofuscado.

De noite, reflete no solo Lunar, mostrando-o diferente de quarto em quarto.

Luz é também a parte visível ao meu olho de toda a radiação electromagnética que as estrelas, como o Sol, irradiam para o espaço. Luz é energia que aquece o meu planeta e que as plantas usam para “juntar” átomos de carbono na forma de açúcares.

A janela do meu planeta não está sempre com a mesma abertura ao longo da sua viagem de translação solar. O trilho elíptico e o eixo inclinado do meu pião planetário fazem com que, ao longo do ano, a luz passe pela janela com intensidades e periodicidades diferentes. Como resultado, o meu planeta veste-se com estações de vida, composições e estados físico-químicos diferentes, de quarto em quarto, por estas latitudes.

É como se a janela do meu planeta tivesse uma portada e uma persiana. A luz que por ela entra depende da posição combinada dos dois obliteradores.

A persiana sobe e desce com uma periodicidade diária. Ao subir, enche o dia de Luz. Quando desce, apaga as sombras deixando breu.

A portada abre e fecha com uma frequência e amplitude que depende da latitude em que estou no meu planeta.

No equador, está sempre aberta. Nos trópicos oscila a um ritmo quaternário, mas nunca está totalmente aberta ou fechada. Nos pólos é binário: seis meses aberta, seis meses encerrada.

Incidência da Luz solar, no solstício de Inverno, no hemisfério Norte. Fonte: https://commons.wikimedia.org/.
Incidência da Luz solar, no solstício de Inverno, no hemisfério Norte. Fonte: https://commons.wikimedia.org/.

Solstício de inverno

Nesta altura natalícia, mais precisamente no dia 21 de Dezembro de 2018, pelas 22h23 min (hora continental), a portada da janela do meu planeta recomeçou a abrir-se, para semear, dia a dia, a noite de luz.

Dizem os antigos que é a vitória da luz sobre as trevas. Diz a ciência que ocorreu o solstício de inverno. Dizemos todos que, por estas latitudes, os dias vão ter cada vez mais horas de luz, até que a janela do meu planeta fique o mais aberta que lhe é possível por alturas do solstício de verão. Mas isso é só para o Ano Novo que, por estes dias de festa, também começa.

Luz crescente, renovada esperança, acordam as sementes adormecidas, florescem os botões de fertilidade. Maior exposição solar e com maior intensidade, maior a fotossíntese. Maior também a temperatura e os cristais de gelo, refulgentes estrelas de natal, recompõem-se na água líquida, fluido de vida, de viagem, de mudança.


Artigo da autoria de António Piedade, retirado do repositório “Ciência na Imprensa Regional”, uma iniciativa da “Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica”, lançada em 2011, com o objetivo de estimular a comunicação de ciência na imprensa regional em Portugal.

Foto: Nascer do sol, no solstício de inverno, em Stonehenge. Stonehenge é uma estrutura formada por círculos concêntricos de pedras, que chegam a ter 5 m de altura e a pesar quase 50 toneladas, existente desde 3100 a.C.. As teorias atuais a respeito da finalidade de Stonehenge sugerem o uso simultâneo para observações astronómicas e funções religiosas. Em Portugal, existe uma estrutura semelhante, perto de èvora, o cromeleque dos Almendres.

Acerca da natureza das coisas

No ano de 2019, em que a edição portuguesa do Mensageiro de Santo António faz 35 anos, abrimos aqui um novo espaço dedicado à ciência, de certo modo inspirado no blogue De Rerum Natura.

Iniciamos com um artigo sobre a Luz do Natal. Esta festa do nascimento de Jesus, na altura do solstício de inverno, a 25 de dezembro, começou em Roma, a partir do século IV, destinada a substituir e ressignificar as festas pagãs em honra do Deus Sol.

O Natal, dia santo para os cristãos, é amplamente celebrado por muitos não cristãos, sendo que muitos dos costumes e tradições que lhe estão associados tem origem pré-cristã, mergulhando longe na história e no desejo de renovação que o solstício de inverno proporciona. Entretanto a sociedade de consumo introduziu novos símbolos, novos hábitos e voltou a paganizar símbolos que anteriormente tinham uma clara referência cristã, visando sobretudo o estímulo da atividade económica.

Este espaço intercalará com entrevistas a personalidades do mundo da ciência, da arte, da cultura, da literatura ou da cidadania. Em fevereiro, teremos aqui uma entrevista com Carlos Fiolhais, Professor Catedrático de Física da Universidade de Coimbra.

A redação

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