Lenda de Santo António da Charneca

A popularidade de Santo António em Portugal está bem patente no cancioneiro português, onde o santo tem uma presença significativa. Estas histórias são passadas de geração em geração, numa forte tradição oral que espelha a devoção a um santo que vai somando padroados e atributos ao longo dos séculos.

São relatos de milagres que lhe são atribuídos quanto ainda era criança, que denunciam a santidade latente, ou intervenções para proteger os mais indefesos, ou ainda narrativas relacionadas com a origem de nomes de vilas e aldeias de norte a sul do país. É o caso da lenda de Santo António da Charneca:

Um certo dia, no tronco de um pinheiro, apareceu a imagem de um santo. Os camponeses pensaram que era Santo António. A imagem foi levada para Lisboa, para a identificarem melhor. A imagem voltou a aparecer no pinheiro e foi levada, outra vez, para Lisboa. Depois de alguns dias, voltou a aparecer no mesmo sítio. Os camponeses pediram ajuda a um fidalgo que viveu na Quinta do Corvo. O fidalgo mandou construir uma ermida, para a imagem do santo. Os camponeses construíram pequenos casebres, à volta da capela e chamaram a esse lugar Santo António da Charneca.

Mas a história não acaba aqui. No século XVII, Vieira Lusitano, grande devoto de Santo António, irá perpetuar numa gravura um novo milagre de Santo António nessa ermida:

No sítio chamado Charneca da banda de além há uma Ermida de Santo António, e junto, ou pouco distante dela havia um notável pinheiro. Sucedeu que uma tempestade horrível empurrava o dito pinheiro de sorte que ameaçava ruína a dita ermida. Porém, prodigiosamente estalando pelo pé, caiu contra o furioso vento.

É também esta a história representada no Painel de Azulejos de 1933, da Fábrica de Cerâmica Constância de Lisboa, pintado por João Rosa Rodrigues sob a direção artística de Leopoldo Battistini.

Milagre do Pinheiro. Painel de Azulejos (1933), Leopoldo Battistini (1865-1936), direção artística João Rosa Rodrigues, pintor (1892-1961). MLSA.AZU.0029.

Foto da capa: Milagre do Pinheiro. Painel de Azulejos (1933), Leopoldo Battistini (1865-1936), direção artística João Rosa Rodrigues, pintor (1892-1961). MLSA.AZU.0029.

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