Lamentação pelo Amado

A Palavra de Deus

Quando chegaram ao lugar chamado Calvário,
crucificaram-no a Ele e aos malfeitores,
um à direita e outro à esquerda.
Jesus dizia: “Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.”
[…]
Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados
insultava-o, dizendo: “Não és Tu o Messias?
Salva-Te a Ti mesmo e a nós também.”
Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o:
“Não temes a Deus,
tu que sofres o mesmo suplício?
Quanto a nós, fez-se justiça,
pois recebemos o castigo das nossas más ações.
Mas Ele nada praticou de condenável.”
E acrescentou: “Jesus, lembra-Te de mim, quando estiveres no teu reino.”
Jesus respondeu-lhe:
“Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.”

Lc 23, 33-34.39-43

A palavra de Santo António

Lembra-Te de mim, quando estiveres no teu reino. Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.
O meu Amado é para mim uma bolsinha de mirra; que repousa entre os meus seios
(Cant 1,13).

O nosso Amado, cacho de alfena, bolsinha de mirra…
condenado à morte; põem-lhe aos ombros o madeiro da cruz;
sai para o Calvário; é despojado das vestes, crucificado nu entre ladrões;
dão-lhe a beber fel e vinagre e é blasfemado pelos transeuntes. E que mais?
A Vida some-se por entre os mortos.
Os olhos do nosso Amado, fechados na morte!
Ó face, para a qual os Anjos desejam olhar, transformada em palidez!
Ó lábios, favo a destilar palavras de vida eterna, tornados lívidos!
Oh! pende inclinada a cabeça, que faz tremer os Anjos!
Aquelas mãos a cujo tacto a lepra desaparecia, a vida voltava, a luz perdida era restituída, fugia o demónio e o pão se multiplicava,
aquelas mãos, digo ai, estão perfuradas por cravos, tingidas de sangue!
Juntemos, portanto, todas estas coisas, irmãos caríssimos,
façamos um ramalhete de mirra e ponhamo-lo entre os nossos seios,
tragamo-lo sobre o coração, sobretudo nesta noite e amanhã,
a fim de merecermos ressurgir com Ele ao terceiro dia.

Lc 23, 33-34.39-43

Aprofundemos

Lucas, o evangelista da misericórdia, é o único a enfatizar o perdão de Jesus pelos seus crucificadores: “Eles não sabem o que fazem”. No seu rasto e em relação à própria crucifixão, Pedro dirá: “É por ignorância que vós agistes dessa maneira” (At 3,17); e Estevão aos seus carrascos: “Senhor, não lhes atribuas este pecado” (At 7,60). É a atitude que Jesus pede aos seus discípulos: perdoar, não “sete vezes”, mas “setenta vezes sete”, ou seja, sempre.

Uma novidade extraordinária, para os tempos de Jesus e para os nossos. Como é difícil o perdão, a única resposta que reconcilia a vítima e o ofensor, em vez da vingança; mesmo que a justiça deva seguir o seu percurso com as reparações necessárias aos erros cometidos contra a vítima ou, se ela morreu, aos pais e à família.

Não é difícil imaginar que foram essas palavras de Jesus que revelaram ao bom ladrão a verdadeira novidade do seu reino: um reino de justiça, mas também de misericórdia, de reconciliação, de relações pacíficas entre a vítima e os seus assassinos. Diz Santo António:

Em relação ao que peca contra ti, deves usar de misericórdia com o coração e com a boca, para lhe perdoar de coração e com a boca.
O rosto de Jesus Cristo suportou bofetadas e lágrimas sem haver iniquidade de sua parte; ofereceu a Deus orações puras pelos imundos e desonestos, intercedeu pelos pecadores (Is 53,12) dizendo: Pai, perdoa-lhes.
Oh! pecador, deixa frutificar em ti, por favor, o preço da tua redenção. Sobre a tua testa escrevi com o meu sangue a letra Tau, a cruz para que o Senhor te reconheça.

Jesus, lembra-Te de mim, quando estiveres no teu reino.

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