Sinopse
SEMEN EST VERBUM DEI: UM LUGAR PARA A POESIA NO NOSSO TEMPO
Em 1927, Heidegger escrevia um livro de título premonitório: Língua técnica e Língua de Tradição, opondo as duas línguas que, na modernidade, se confrontam e estabelecem a dialéctica e as tensões não só no mundo cultural, mas sobretudo, político. A tese é a seguinte: o predomínio do «homo tecnologicus» levará ao esvaziamento da linguagem e, com ela, ao esvaziamento do espírito. Ortega y Gasset, em A Rebelião das Massas (1924) considera que o Ocidente reúne todas as condições para a emergência desse novo homem – pragmático, inimigo da filosofia e da cultura, da arte e da poesia, da música e das Luzes -, fruto dum processo industrial que o transformou em máquina servil dos totalitarismos. O «homem-massa» exige o tirano, o ditador, de modo a ter garantidas as certezas do seu modo de vida, livre das inquietações metafísicas.
Num tempo em que as novas tecnologias, as redes sociais, o digital se sobrepõem ao poder da palavra escrita, urge perguntar se o verbo, a palavra, tem ainda alguma função civilizadora; no fundo: que lugar tem a poesia neste «admirável mundo novo»? Sobretudo na educação dos mais jovens, pode a sentença de Vieira ter algum eco? São Basílio de Cesareia (A importância da literatura na formação dos jovens), Vieira, Heidegger, Jean Onimus (La Condition Poètique), mas também algumas premissas de Jean-Luc Nancy (A resistência da poesia) e de Antoine Compagnon (Para que serve a literatura?) servir-nos-ão de guia para esta recordação sobre a palavra e a força que nela ainda vibra – a palavra de poesia.
António Carlos Cortez
Poeta, crítico literário e ensaísta é professor de literatura portuguesa e de português.
Publicou desde 1999 catorze livros de poesia. Destacam-se da sua obra os seguintes volumes: “A Sombra no Limite” (gótica, 2004): “Depois de Dezembro” (prémio da Sociedade Portuguesa de Autores para melhor livro de poesia em 2011); “O Nome Negro” (Relógio d’água, 2013); “Animais Feridos” (dom Quixote, 2016); “A Dor concreta – antologia pessoal” (tinta da china, 2016). Com está antologia recebeu, em 2018, o prémio da APE / Teixeira de pascoaes para melhor livro de língua portuguesa.
Publicou em 2019 a colectânea de ensaios “Voltar a Ler – sobre poesia, cultura, educação” (Gradiva).
“Jaguar” é o seu mais recente livro de poesia, publicado em Junho de 2019, pela dom Quixote.
No prelo tem dois livros de ensaio a saírem pela Gradiva: “A urgência da literatura” e “Em tempos decisivos – 15 ensaístas portuhueses/ antologia de textos críticos”.
É membro do clube Unesco para a promoção da leitura em Portugal. Foi-lhe atribuída, já em janeiro deste ano, a bolsa de mérito para a criação literária do Centro Nacional de Cultura.