Senhor Padre, sou catequista há muitos anos, mas neste momento na minha aldeia há poucas crianças e muitas não querem vir à catequese. Cuido também da igreja paroquial que dá bastante trabalho, porém algumas vezes fica fechada e sem Missa. Porque é que não temos um padre? Se há tantos padres por aí? Porque não querem vir para a nossa paróquia?
Adelina
Há jovens que de vez em quando vêm à Missa, mas são poucos e, quando lhes peço ajuda e tento ensinar, logo desaparecem. Na igreja, faltam braços jovens e temos tanto para fazer.
Cara leitora, fala de uma situação comum em muitas das nossas comunidades. É verdade que há menos crianças e sobre isso a única coisa que podemos fazer é valorizar a Família. No entanto aquilo que pode fazer é tentar cativar as poucas crianças que existem e as famílias. Tente criar momentos de encontro. Não é fácil cativar as pessoas, mas obrigar não é o caminho. Porque não tentar envolver alguns jovens que diz que aparecem por aí. Fazer com que se sintam motivados, confiar neles e fazer render as suas capacidades.
Se conseguirem cativar algumas famílias, com elas terão também algumas crianças para a catequese. A catequese, com a ajuda dos jovens e dos pais, não será uma “seca” e poderá ganhar outra dinâmica. O objetivo é apresentar Jesus Cristo, de um modo atrativo, para que eles queiram ouvir o que Jesus tem para lhes dizer.
Quando diz que há muitos Padres, eu não sei onde eles estão! Peço que me diga, porque vou dizer isso a alguns Bispos que precisam de padres e não sabem o que fazer. Desculpe a brincadeira, mas a verdade é que os sacerdotes, por aqui, são cada vez menos. Há padres com quatro ou mais paróquias e, portanto, é compreensível que não possam celebrar em todas.
Perante a falta de clero, por um lado, terão que ser os leigos a cuidar de coisas que antes eram os padres que faziam. Por outro lado, devemos perguntar: porque não temos vocações? Será que o Senhor não chama? Será que o Senhor está a trabalhar pouco?
Eu acho que Ele continua a chamar. Penso que somos nós que não estamos a fazer a nossa parte. As nossas comunidades não são comunidades vocacionais. Não são comunidades fecundas, capazes de gerar. Não ajudamos os jovens a discernir e a escolher.
Quando nos chega um jovem, carregamo-lo com os nossos pesos. Quando um jovem se aproxima de uma comunidade cristã, vem com vontade, quer ajudar, porém tem logo “sete olhos” que o controlam. No primeiro dia é tudo muito bonito, no segundo também, mas ao terceiro dia já estamos a querer dominar e corrigir, dizendo que não se pode fazer assim, sempre se fez de outra forma e assim cortamos a liberdade e o entusiasmo. Será que somos comunidades vocacionais, capazes de gerar vida e paixão por Jesus Cristo? Quantas vezes em famílias dizem cristãs, católicas e praticantes, se um filho diz que quer ir para o seminário, consideram isso uma desgraça. Quantas vezes já ouvi pessoas que vão à igreja e quando aparece um rapaz, usam frases como esta “Que desperdício!”…
Como vê não há tantos padres e talvez a culpa não seja só dos jovens que não respondem, mas também nossa que não sabemos cativar, acolher, ajudar a discernir, acompanhar, cuidar do jovem para que cresça no amor a Cristo e possa dar uma resposta corajosa.
Os jovens que aparecem na igreja são corajosos e estão a remar contra a corrente, mas não os podemos transformar em marionetas, em repetidores daquilo que nós sempre fizemos. Temos de ter a capacidade de os escutar e de caminhar com eles.
Um dos aspetos para os quais o “Sínodo dos Jovens” alertou foi a necessidade de caminhar com eles. O Papa salientou na última homilia: é preciso escutar os jovens, não arrastá-los para o nosso lado, mas fazer-se próximo deles. E testemunhar, não aquilo que se faz há duzentos ou trezentos anos na nossa igreja, repetindo gestos tantas vezes sem sentido, mas testemunhar o amor por Jesus Cristo, a vida nova em Jesus Cristo, o Evangelho de Jesus Cristo.