2021 aproxima-se do fim e, com ele, este nosso percurso pelas vidas dos “jovens santos portugueses”. Desta vez, trago as histórias de um outro par destes jovens, que, apesar de não tão “famosos” como Francisco e Jacinta Marto, têm muito a ensinar-nos no que significa seguir Jesus “até ao fim”.
Maria Vieira da Silva

Foi na pacata Vila de São Sebastião, do concelho de Angra do Heroísmo (Ilha Terceira, Açores) que nasceu Maria Vieira da Silva, a 11 de novembro de 1926. Era a segunda dos 9 filhos de Júlio de Sousa da Silva, pedreiro e jornaleiro, e de Isabel Vieira da Silva, doméstica. Maria passava a maior parte do seu tempo a ajudar a mãe nas lides da casa; no pouco que sobrava, divertia-se a “inventar” brinquedos com tudo o que encontrava no seu quintal. Os vizinhos assim a viam muitas vezes: tímida, acocorada na soleira da porta a brincar com o irmão Júlio (mais novo) ou com o pai, diante do qual era extrovertida e até traquina, mas sempre respeitosa e obediente.
Aos 6 anos já frequentava a Catequese, naquela altura orientada pelo pároco Pe. Joaquim Esteves, homem austero, mas sábio. Com ele aprendeu a renegar o pecado e a ter medo do inferno, a amar a Jesus Cristo e à Virgem Maria. Inteligente e curiosa, Maria fez a Primeira Comunhão sem se destacar dos demais colegas… Mas a sua religiosidade era profunda: usava uma medalha de Nossa Senhora de Fátima ao pescoço e todos os dias rezava o terço em família. Na Escola, a sua inteligência rebrilhava: aos 10 anos, passou com distinção no exame da “4ª Classe”. Mas, como os seus pais não tinham condições para a fazer prosseguir nos estudos, imediatamente regressou à vida de sempre. Aos 13 anos era já uma “mulher em ponto pequeno”: além dos trabalhos domésticos, cuidava ainda de sua tia Dolores (doente de febre tifoide) e de seu irmão mais novo, José, de quem era madrinha e cujos graves problemas de saúde o colocavam às portas da morte.
Quem poderia sequer imaginar que aquela jovem Maria haveria de ser assassinada pouco tempo depois (a 4 de junho de 1940), apenas por ter resistido a uma tentativa de violação? E que dizer do seu profundo amor cristão, quando, já no seu leito de morte, decide dirigir as suas últimas palavras àquele homem – “tio José Quinteiro” – que tão cruelmente lhe havia roubado a vida, não para o acusar mas para o perdoar? Se quiseres conhecer melhor a sua dramática mas igualmente bela história, podes consultar a página do Processo da sua Beatificação e Canonização (iniciado em 2018) – https://mariavieira.org/, onde podes encontrar notícias, fotografias, vídeos e mais curiosidades sobre a personagem e o culto que as gentes da Terceira (e dos E.U.A. e Canadá) lhe prestam.
Fernando Caló

Menos de um ano depois da trágica morte de Maria, nascia Fernando Caló, a 29 de maio de 1939, filho de uma família igualmente pobre de Setúbal. O pai, Salvador Machado Caló, era vendedor ambulante de peixe, enquanto que sua mãe, Maria José da Silva Pereira, era “mulher-a-dias”.
Com a ida da mãe para o Estoril como “governanta”, Fernando é matriculado na Escola Salesiana daquela localidade, onde faz a Primeira Comunhão. Aos 11 anos, muda-se para Lisboa, onde é inscrito nas Oficinas de São José, estabelecimento onde se haveria de converter num verdadeiro modelo para toda a juventude salesiana.
Se, no início, era um jovem irrequieto, algo briguento e impulsivo, com o tempo haveria de se transformar num aluno e amigo exemplar para todos os seus colegas. Essa transformação interior teve eco até na sua relação com sua mãe, cuja atitude diante da fé, da Igreja e da Eucaristia o jovem demonstrou vontade de influenciar.
Inspirando-se no igualmente jovem Domingos Sávio, Caló, no dia da Imaculada Conceição de 1954, faz a sua consagração a Nossa Senhora diante da imagem de Maria Auxiliadora. Os seus “propósitos”, lidos publicamente, são claros:
- Quero ser santo. Para sê-lo farei como Domingos Sávio, que será o meu modelo.
- Guerra às más conversas. Não as terei, nem as quero ouvir.
- Farei as minhas confissões e comunhões com frequência.
- Entrego-me às mãos da Imaculada a fim de que Ela, por meio do meu confessor e do meu diretor espiritual, faça de mim um jovem puro e santo.
Por várias vezes considerado o melhor aluno (em aproveitamento escolar e em comportamento), era visto por todos como um exemplo a seguir.
A 22 de abril de 1956, durante um jogo de futebol, dá uma pancada com a cabeça numa coluna do pórtico do pátio, de que resulta uma série de graves lesões das quais já não haveria de recuperar. Sendo internado, fica impedido de concluir o seu curso de Tipógrafo; mas o Diploma, juntamente com o prémio de melhor aluno, acabam por lhe ser entregues pela própria mãe, na cama do hospital.
Certo dia, um companheiro pergunta-lhe: “Ó Fernando, e se morresses agora?” “Estou preparado… A verdade é que também se joga futebol no céu”, respondeu ele prontamente.
Com efeito, o “apito final” da sua vida terrena deu-se a 26 de julho desse ano, deixando na memória de muitos o seu testemunho de exemplaridade no estudo, lealdade nas relações, piedade e pureza de sentimentos.
Se quiseres saber mais sobre o Caló, a página https://www.salesianos.pt/ ou os livros O Caló, de Gabriel Bosco (Edições Salesianas, 1960) e Fernando Caló – Atleta do Senhor, de Giorgio Mocci (Editrice Elledici) são uma preciosa ajuda.
Como vês, os “jovens santos” estão bem perto de nós.
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