Recordando que o fundamental é “caminhar com os jovens”, o terceiro e último capítulo do “Documento preparatório” do Sínodo dos Bispos 2018 apresenta-nos os “sujeitos”, os “lugares” e os “instrumentos” envolvidos e/ou a envolver neste caminho do discernimento vocacional.
Regressando ao essencial: “caminhar com os jovens”
Se os dois primeiros capítulos já analisados se poderão compreender, respetivamente, como uma “análise prévia da situação” e uma “sistematização” do tema aqui em debate, este terceiro adquire um perfil “programático”. Com efeito, ele pretende pôr em foco o que comporta levar a sério o desafio do cuidado pastoral e do discernimento vocacional, tendo em consideração os protagonistas, os lugares e os instrumentos à disposição. Isto significa sair dos próprios esquemas pré-fabricados, encontrando-os lá onde eles estão, adaptando-se aos seus tempos e aos seus ritmos; (…) [e] levá-los a sério na dificuldade que têm de decifrar a realidade em que vivem.
Para tal, elencam-se três verbos fundamentais: sair (daquelas formas de rigidez que tornam menos credível o anúncio da alegria do Evangelho, dos esquemas em que as pessoas se sentem catalogadas e de um modo de ser da Igreja que às vezes resulta anacrónica), ver (passar tempo com eles, a ouvir as suas histórias, as suas alegrias e esperanças, as suas tristezas e angústias) e chamar (despertar o desejo…, formular perguntas para as quais não existem respostas pré-fabricadas).
Os “sujeitos” (pró-ativos) do discernimento: os jovens, a comunidade e as “figuras de referência”
Para a pastoral, os jovens são sujeitos e não objetos. Este princípio básico da Teologia Pastoral, tantas vezes esquecido, exige a autocrítica da prática eclesial: Toda a comunidade cristã deve sentir-se responsável pela tarefa de educar as novas gerações.
Isso implicará aceitar uma “dimensão de projeto” que comporta riscos, que poderão ser contornados mediante uma “preparação específica e contínua dos formadores”. Papel igualmente importante terão os adultos fidedignos (…) crentes autorizados, com uma clara identidade humana, uma sólida pertença eclesial, uma visível qualidade espiritual, uma vigorosa paixão pela educação e uma profunda capacidade de discernimento, que o texto identifica com os pais/familiares, os pastores e os professores (entre “outras figuras educativas”). A eles competirá a missão de dar um testemunho de vocações humanas e cristãs acolhidas e vividas com fidelidade e compromisso.
Os “lugares” do discernimento
(…) a vida quotidiana e o compromisso social são os percursos de escolha que podem tornar-se uma escola de discernimento e consolidar a orientação pessoal. Uma vez mais, e demonstrando uma grande harmonia interna, o Documento realça que quanto mais autêntica for a fé, tanto mais interpelará a vida quotidiana e por ela se deixará interrogar. Especificando o “habitat favorável” à descoberta/discernimento vocacionais na juventude, identificam-se lugares específicos de encontro e de formação cultural, de educação e de evangelização, de celebração e de serviço: as Jornadas Mundiais da Juventude, Encontros Diocesanos, Paróquias, Universidades e Escolas, atividades sociais e de voluntariado, associações e movimentos laicais e Seminários. Uma palavra de destaque é dada ao “mundo digital”, espaço global que, sobretudo para as jovens gerações se tornou verdadeiramente um lugar de vida, o que implica dizer da necessidade de uma nova compreensão do mesmo no quadro das dinâmicas e estratégias de pastoral juvenil.
Os instrumentos: “linguagens” e “silêncios”
Às vezes observamos que entre a linguagem da Igreja e a dos jovens se abre um espaço difícil de preencher. A solução para o estreitamento desse hiato, por muitos referido, passará por uma Igreja que saiba deixar espaços ao mundo juvenil e às suas linguagens, apreciando e valorizando a sua criatividade e os seus talentos. Interessante é também a exortação a que devemos habituar-nos a percursos de aproximação da fé sempre menos padronizados e mais atentos às características pessoais de cada um. No fundo, este é um convite a uma “hospitalidade (mais) alargada”, imitando Jesus que sabia falar com judeus e samaritanos, com pagãos de cultura grega e ocupantes romanos, compreendendo o desejo profundo de cada um deles. Finalmente, a “Lectio Divina”, a oração silente, o diálogo com Deus (com o olhar no “estilo” de Maria) são instrumentos essenciais para uma “nova leitura das experiências pessoais e para a escuta da própria consciência”.
Nota final
Aqui termina a análise que nos propusemos no início deste ano. Sirvam estas linhas como “guia” para a sua leitura-compreensão mais profunda e para um preenchimento mais “consciente” do Questionário que o Papa Francisco lançou aos jovens de todo o mundo na preparação do próximo Sínodo (ver o Lig@-te desta edição). E que os “agentes” envolvidos saibam identificar os desafios e encontrar a coragem para os enfrentar. O caminho sinodal – já em marcha – assim no-lo exige. A todos.