O último Sínodo (2018) e a crescente proximidade das Jornadas Mundiais da Juventude (2022) estão a “agitar as águas” na Pastoral Juvenil em Portugal, uma “agitação” que será simultaneamente sinal de um esforço da receção do primeiro e passo de suprema importância no caminho de preparação das segundas. Contudo, o que me parece digno de registo é que esta “efervescência” esteja a ocorrer também numa área onde o (sempre “oficialmente” preconizado) “trabalho de equipa” nem sempre foi “efetivamente” concretizado, postura que parece estar (felizmente e finalmente) a mudar. Refiro-me à área da formação pastoral, particularmente a dirigida aos “Animadores” e demais “agentes de pastoral” (sobretudo entre os leigos), verdadeiras “pontas de lança” da pastoral juvenil eclesial no meio e com os jovens.
“Velhos” problemas…
É por todos sabido que este tema da “formação” atravessa a história da Pastoral Juvenil em Portugal. Isto verifica-se, em primeiro lugar, ao nível dos “princípios orientadores” (as já aqui várias vezes citadas Bases para a Pastoral Juvenil referem esta questão em 7 dos seus 27 parágrafos – ver nºs. 13-16 e 20, 22-23), nos quais até se sublinha que a própria “Conferência Episcopal Portuguesa, através das suas estruturas nacionais da Educação Cristã e do Apostolado dos Leigos, assegurará (…) propostas de itinerários de formação cristã dos jovens (…) e de planos de formação de animadores” (nº 22) e se entrevê inclusive que “a pastoral juvenil exige uma cuidadosa formação dos seus animadores ou líderes, o que poderá suscitar a criação de Escolas adequadas” (nº 23). Em segundo lugar, registem-se os esforços dos Secretariados/Departamentos Diocesanos, Movimentos, Congregações e Institutos Religiosos que, no seu contexto, a seu modo e considerando o melhor uso possível dos recursos disponíveis, foram sendo capazes de levar a cabo iniciativas neste âmbito (algumas delas já ecoadas igualmente nestas páginas no passado). Finalmente, refira-se a disponibilização/publicação de vários recursos (bibliográficos, audiovisuais ou outros), vocacionados quer para o aprofundamento da formação dos mesmos agentes quer no auxílio à prossecução da sua missão, de autoria ora institucional ora particular/pessoal (de que também já aqui demos nota).
Não obstante a inegável importância de todos estes contributos, é por todos reconhecida a nossa, diria, “endémica” dificuldade em conjugar esforços e meios e, de forma verdadeiramente corresponsável, organizada, estruturada e sistemática (em suma, em lógica “sinodal”) tornar real esse “sonho” antigo e por muitos partilhado de ver finalmente nascer um “Itinerário de Formação de Pastoral Juvenil”, nos seus diversos níveis de responsabilidade pastoral, reconhecido e assumido por todas as Dioceses, Movimentos e estruturas eclesiais a ela dedicadas (porque todas elas para ele contribuíram e nele se reveem).
Novas respostas…
Espero sinceramente que para tal concorram as mais recentes iniciativas promovidas por algumas “estruturas de topo” da nossa realidade eclesial nacional. Entre estas merece destaque o “Encontro Nacional de Formação para Agentes Pastorais dos Secretariados Diocesanos da Pastoral Juvenil, Pastoral Vocacional e Pastoral do Ensino Superior“, promovido precisamente pelas Comissões Episcopais do “Laicado e Família” e “Vocações e Ministérios”, ocorrido entre 17 e 23 de setembro passado em Fátima. Nele se refletiu sobre as melhores formas de “auscultar” e “caminhar com” os jovens, sob orientação do Pe. Rossano Sala, salesiano e secretário especial do Sínodo 2018. Muito relevante foi o sublinhado feito na necessidade de adoção de uma “nova atitude” (pastoral) que, em vez de preocupada com o “que dizer” ou “que fazer para” os jovens, aposte antes no “como e quem queremos ser” quando com eles (dizemos que) caminhamos. É, portanto, à “qualidade” dos “acompanhadores”, que devem ser verdadeiros “pontos de referência” dos/entre os jovens, que se devem apontar as baterias das nossas energias e esforços, algo que não será possível sem a respetiva aposta na formação específica para este verdadeiro ministério. Precisamente por ser o primeiro exemplo de proposta de “formação específica” (e academicamente sustentada) neste âmbito, merece igual destaque o também recentemente lançado “Curso de Pastoral Juvenil”, promovido pelo núcleo de Braga da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. Partindo das constatações assumidas pelo Papa Francisco quanto ao novo contexto em que a Pastoral Juvenil hoje se inscreve (Cristo vive, nº 202), os promotores propõem um Curso em que se privilegia não só o conhecimento mais sistemático deste mesmo contexto (juvenil, eclesial e pastoral) mas onde se potencia a compreensão daquelas categorias bíblicas, teológicas, pastorais, culturais, sociais e político-associativas sem as quais um trabalho pastoral com jovens que se pretenda atualizado e contextualizado já não é possível. A sua realização no Centro Regional de Braga daquela Universidade poderá ser fator impeditivo à participação de jovens/agentes de outras regiões do país; mas que sirva, pelo menos, como “tubo de ensaio” para iniciativas (de âmbito nacional), quiçá para a criação das “escolas adequadas” a que as citadas Bases já apontavam (em 2002…).