A Palavra de Deus
O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo:
Maria, sua mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo.
Mas José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que lhe disse:
“José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e tu pôr-lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados”.
Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: “A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer: ‘Deus connosco’”. Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa.
Mt 1, 18-24
A palavra de Santo António
– José interpreta-se aumento.
Diz-se na bênção de José no Génesis: “Deus fez-me crescer na terra da minha pobreza” (Gn 41,52). Na terra da pobreza e não da abundância. Naquela faz crescer; nesta faz diminuir. O pobre, como luz, cresce até ao dia perfeito e torna-se cada vez mais robusto, porque a pobreza alegre e voluntária dá robustez. Diz Isaías: “O espírito dos pobres é como um furacão que investe contra a parede” (das riquezas) (Is 25,4). Na verdade, as riquezas esgotam e debilitam. (Sermão do I Domingo depois do Natal)
– José, justo e salvador.
“Ao chegarem os dias da purificação, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém para O apresentarem ao Senhor” (Lc 2, 22). “A misericórdia e a verdade encontraram-se; a justiça e a paz beijaram-se” (Sl 84,11). A misericórdia está no Redentor; a verdade da promessa, em Simeão; a justiça, em Maria Santíssima e em S. José; a paz, na profetiza Ana. (Sermão da Purificação de Maria Virgem)
– José, aumento, símbolo de Cristo.
O Filho de Deus Pai veio ao campo deste mundo no tempo da ceifa do trigo, em que o trigo, por indústria de José, devia ser escondido no celeiro da Santíssima Virgem, para que não perecesse de fome todo o Egipto.
Sermão do IV Domingo depois do Pentecostes
Aprofundemos
Santo António apresenta as duas figuras de José: o patriarca, filho de Jacob e de Raquel (Gn 30, 22-24) e o esposo de Maria, mãe de Jesus (Mt 1, 18). Cada uma das duas figuras comporta uma missão, vinculada ao seu nome.
– José, o patriarca, significa “aquele que cresce”. Representa o cristão que, pela fé, cresce em boas obras; o missionário que, com o anúncio da Palavra, aumenta o número dos fiéis, quando o som de suas palavras é precedido pelo testemunho da vida. O trigo que José escondeu no celeiro da Virgem, para que aos apóstolos e aos seus seguidores não faltasse comida (Gn 41,47-49), é Jesus Cristo. O próprio José, “de belo aspeto” (Gn 49, 22), significa Jesus Cristo, que se fez como um grão de mostarda e se tornou uma grande árvore, em cujos ramos habitam os que contemplam os bens celestes.
– José, o esposo de Maria, é “aumento” porque, com esperança, é como um pé que avança. Pelo contrário, o desespero dá-se quando não há possibilidade alguma de caminhar, pois quem ama o pecado, não espera na gloria futura.
José é, acima de tudo, o servidor humilde e diligente.
Como Israel amava José mais do que todos os seus filhos, porque era o filho da sua velhice (Gên. 37, 3), assim, Deus Pai amou seu Filho Jesus Cristo mais do que todos os filhos adotivos nascidos da Virgem Maria e o revestiu, como a cada um de nós, da esplêndida túnica da humildade.
Foto da capa: São José esposo de Maria. Litografia de F. Piloty segundo Sir A. van Dyck. Wellcome Library, London | Commons.wikimedia.org.