João de Brito

No nosso percurso pelos santos patronos da JMJ Lisboa23, a figura de São João de Brito é particularmente fascinante e atrativa: um jovem português do séc. XVII, radical e convicto nas suas escolhas, que bem cedo deixa a sua terra natal, para chegar aos confins do mundo, às Índias, e anunciar com paixão e destemidamente o Evangelho de Cristo.

João de Brito nasce em Lisboa em 1647 de pais aristocratas. Ainda adolescente é admitido entre os pajens do rei de Espanha, mas um dia fica gravemente doente e a mãe, grande devota de São Francisco Xavier, faz esta promessa: vestir o filho, ao longo de um ano, com o traje dos Jesuítas em troca da cura.

Eu amo mais o céu do que a terra, mais as florestas de Madurai do que o palácio de Portugal João de Brito
Eu amo mais o céu do que a terra, mais as florestas de Madurai do que o palácio de Portugal. João de Brito

A doença desaparece logo e Joãozinho apresenta-se revestido com uma “saia” e uma coroa do rosário ao cinto, tornando-se alvo de piadas e sarcasmo! Mas o menino não perdeu a sua serenidade, aliás o seu temperamento decidido e exemplar, deixava marca!

Aos quinze anos, o seu coração já sonhava com o Oriente, a fim de seguir as pegadas de Francisco Xavier, seu padroeiro e modelo. Com grande espanto de todos, pede para ingressar na Companhia de Jesus e, a 17 de dezembro de 1662, inicia o noviciado. em Lisboa, indo depois estudar para Évora e Coimbra, acompanhado pela fama de ser um dos melhores alunos da universidade. Em 1673, aos 26 anos de idade, é ordenado sacerdote e, depois de muitas insistências, é-lhe consentido partir para as missões na Índia.

Há um episódio emblemático sobre a sua “partida” de Lisboa, que mostra todo o seu ardor missionário. João de Brito, no dia em que devia embarcar, receava que a mãe pudesse obstaculizar a sua viagem, por isso não sai do Colégio para o porto com os outros jesuítas companheiros de viagem. Vai sozinho, por atalhos, e só quando entra no navio é que escreve a carta de “adeus” para a sua mãe. Imaginamos a dor desta mulher que já tinha perdido o filho mais velho, Cristóvão, no campo de batalha. Prevaleceu o fogo que ardia no peito deste jovem!

Assim, em 1673, após uma viagem aventurosa, João chega a Goa e visita o túmulo de São Francisco Xavier, na igreja jesuíta, onde renova o compromisso de trabalhar pela conversão dos hindus. Dedica-se ao estudo das línguas indígenas e prepara-se para chegar à terra de missão indicada pelo superior provincial: Colei.

De 1674 a 1679 trabalha em Colei e Tatuancheri, enfrentando perigos de vida e grandes dificuldades climáticas, como inundações e chuvas torrenciais. Na Quaresma de 1678, mais de 3000 pessoas receberam os sacramentos.

Em 1686 João chega ao reino de Maravá, onde há 18 anos nenhum missionário passava. Aí batiza mais de 2000 pessoas.

Fora das regiões controladas pelos portugueses, os jesuítas de Madurai procuravam inculturar-se com o estilo de vida indígena, tendo construído uma Igreja Cristã independente da proteção ocidental. Mas uma violenta perseguição abateu-se sobre João de Brito e os seus catequistas que foram impedidos de pregar o Evangelho e expandir o cristianismo.

Pouco depois destes acontecimentos, o provincial escreveu a João de Brito, informando-o de que devia regressar à Europa, visto ter sido eleito procurador da província. João lembrou ao provincial o seu propósito de nunca mais voltar a Portugal, mas a sua objeção não foi aceite.

A 15 de dezembro de 1686, com relutância, João de Brito regressa a Portugal, onde manteve muitos dos hábitos que tinha na Índia: dormia numa esteira, comia só vegetais, vestia à maneira hindu. Aos que se maravilhavam, respondia que os seus irmãos em Madurai levavam uma vida ainda mais radical e de penitência, e acrescentava que queria manter a forma para voltar à Índia logo que lhe fosse permitido. Repetia: “Amo mais o céu do que a terra, os arbustos de Madurai mais do que o palácio de Portugal”.

Em abril de 1690, João de Brito regressa à missão de Madurai. Os últimos anos da sua vida são anos de evangelização, de ulteriores dificuldades e provações. É perseguido pelo rei da região. A situação precipita-se com a conversão de um príncipe polígamo que ao ser batizado despede as suas mulheres ficando apenas com uma. Uma das infelizes era a sobrinha do rei que fez queixa ao tio. João de Brito é preso e espancado. De seguida é levado, no final de janeiro de 1693, para Oriur e de nada servem as tentativas de o salvar.

A 4 de fevereiro, o rei manda decapitar João de Brito e de seguida faz desmembrar o seu corpo. Na noite anterior, tinha escrito:

Agora espero sofrer a morte por meu Deus e meu Senhor… A culpa de que me acusam é que ensino a lei de Deus, nosso Senhor… Quando a culpa é uma virtude, o sofrimento é uma glória.

O local do martírio de João de Brito torna-se, de imediato, um lugar de peregrinações e de conversões. Depois de muitas vicissitudes é proclamado santo, em 1947, pelo Papa Pio XII.

E agora, em 2023, o fervor e ímpeto missionário deste apóstolo e mártir das Índias, São João de Brito, assistem e abrasam a juventude que se apresta a invadir a sua terra natal.

Foto da capa: Eu amo mais o céu do que a terra, mais as florestas de Madurai do que o palácio de Portugal. João de Brito

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