Jesus e as mulheres

Enzo Bianchi, Jesus e as mulheres, Guerra e Paz
Enzo Bianchi, Jesus e as mulheres, Guerra e Paz

O título suscita-nos uma pergunta inicial: fará sentido uma leitura específica sobre a relação entre Jesus e as mulheres? Tal estudo não deveria ser acompanhado de um outro sobre as relações entre Jesus e os homens, no sentido da vivência da sua masculinidade? Infelizmente, continua a ser urgente e necessário invocar esta relação que, segundo os Evangelhos, tem a sua riqueza única: como refere o autor, num tempo em que o habitual era a omissão da referência narrativa às mulheres, o facto de encontrarmos nos textos evangélicos encontros específicos de Jesus com personagens femininas possui uma força dramática intensa.

O autor, Enzo Bianchi, é já um autor conhecido entre nós: monge italiano, prior da comunidade monástica mista de Bose, Bianchi apresenta-nos nesta obra um conjunto de leituras dos relatos e personagens femininas presentes nos Evangelhos, dividindo-se entre os Evangelhos sinópticos e o Evangelho de João. Cada leitura – breve, intensa e numa linguagem muito acessível – conduz o leitor num itinerário espiritual único, no qual emergirá um encontro com o rosto humano, terno, afetivo e corajoso de Jesus. O autor não desenvolve uma perspetiva sobre o lugar da mulher e do homem no seio da Igreja: no entanto, a partir da sua leitura dos Evangelhos, Bianchi situa-se na linha de Papa Francisco, reconhecendo a necessidade de repensar o seu papel ministerial: tal constitui a fidelidade à novidade radical do agir de Jesus no seu tempo, em continuidade com a bela tradição bíblica sobre o lugar da mulher na história da salvação, num contexto social e religioso adverso.

“É neste pano de fundo religioso e cultural, essencialmente patriarcal, que se ergue a figura de Jesus, capaz de minar esse padrão de injustiça de dimensão planetária e que não conhece estações: só Jesus o conseguiu desenraizar, durante a breve duração da sua vida terrena, sendo por isso prontamente menosprezado pelos seus próprios discípulos”.

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