Já não se fazem jovens como antigamente

Texto de Inês Santos e Gonçalo Oliveira

“Onde andam os jovens?” É talvez a pergunta número um que a Igreja tem feito nos últimos anos. A sua origem está no crescente afastamento dos jovens das vivências religiosas.

Atualmente, estima-se que cerca de metade dos jovens em Portugal (entre os 16 e 29 anos) não se identifica com nenhuma religião. E, dos que se identificam (na sua maioria cristãos), mais de metade afirma que não frequenta com regularidade a missa nem tem por hábito rezar.

Pegando no exemplo da República Checa, no espaço de cem anos houve uma queda no número de jovens cristãos de cerca de 90%. A tendência, a nível mundial, para os próximos anos, é que se continue a verificar um decréscimo de jovens presentes na igreja. Este desinteresse é, para nós, motivo de preocupação.

Deve, no entanto, tornar-se também o início de uma mais séria e intensa reflexão sobre as suas causas:

  • Será porque, no meio de tanta opção, a eucaristia e a catequese ou o grupo de jovens não são vistos como uma prioridade?
  • Será porque a maneira de abordagem dos temas não é apelativa?
  • Será porque os jovens simplesmente não se identificam com os valores de uma instituição que zela pela sua tradição e modo de fazer?

Para responder a estas perguntas é imperativo o diálogo constante e atento, mesmo que estejamos a falar de unir interesses e modos de estar de uma entidade com dois mil anos de existência com alguém que não presenciou a queda do muro de Berlim, nem paga IRS. Falamos de uma missão desafiante, mas que promete uma revitalização da Igreja que, ao contrário de comprometer o seu futuro, irá estendê-lo para as gerações vindouras.

É fundamental aceitar que os jovens de hoje nunca vão ser iguais aos jovens de antigamente. O mundo atual não é o mesmo de há cinquenta anos atrás e os jovens são também o produto dessa transformação avassaladora. No entanto, também não são assim tão diferentes! Continuam a ser uma geração que anseia por tornar o mundo melhor, que é criativa, que procura por momentos de introspeção e de reflexão, de encontro com o outro.

É neste entusiasmo que a Igreja se deve basear para trazer novos projetos, novas vozes. Uma Igreja transformada é uma Igreja que transforma. É numa Igreja que se faz presente e preocupada com os desafios atuais que os jovens se veem representados e ouvidos e que, passo a passo, se vão deixando também eles inspirar.

A Diocese de Coimbra tem procurado ser um exemplo de transformação. O Plano Pastoral 2021-2024 é o resultado de uma aposta assente na reflexão que o Papa Francisco propõe na exortação Cristo Vive!, mas decorre também de um extenso estudo das respostas dadas a um inquérito que pretendia conhecer a posição dos jovens face à Igreja e como eles sonham a mesma. Daqui resultam três objetivos que nos vão acompanhar ao longo destes três anos:

  • envolver os jovens na edificação da Igreja;
  • proporcionar aos jovens o encontro com Jesus Cristo;
  • acompanhar o discernimento vocacional dos jovens.

Queremos deixar para trás o incessante jogo do telefone, em que estamos perante uma longa linha de comunicação onde a informação se vai deteriorando pelo caminho. Já lá vai o tempo em que o que dizíamos uns aos outros se traduzia numa conversa encriptada. Vivemos um tempo de mudança!

No dia 15 de janeiro, o COT C Jovem realizou um encontro para apresentar a JMJ aos jovens de Santo António dos Olivais.
No passado dia 15 de janeiro, o COT C Jovem realizou um encontro para apresentar a JMJ aos jovens de Santo António dos Olivais. Do encontro, ficam estas palavras parafraseadas dos testemunhos da Mariana Flores e da Ana Aveiro:
Eu estava ali no meio de três milhões de pessoas com o meu grupo de jovens todos fixados a olhar para o Papa e havia um silêncio brutal ao ouvi-lo. Aquilo mexeu mesmo comigo. Há tanta gente que acredita e há tantos jovens que, como eu, estão aqui que isto só pode ser verdade e faz todo o sentido. Foi aquilo que senti: Deus está aqui no meio destas três milhões de pessoas e em cada uma delas.
Nós aqui somos uma pequena gota de um oceano. Somos tão poucos e lá nós conseguimos deixar por um bocado as nossas vidas preocupadas e atribuladas e ter uma semana para refletir sobre tudo isto e a razão de acreditarmos em Deus.

Referências:

Plano pastoral 2021-2023 Diocese de Coimbra

10 Infografias dos jovens em Portugal, hoje

Inês Santos

Inês Santos

Inês Santos tem 23 anos e é estudante do Mestrado em Estudos de Cultura, Literatura e Línguas Modernas. Desde cedo ligada à pastoral juvenil, é uma das animadoras do Projeto TAU e membro do SDPJ Coimbra

Gonçalo Oliveira

Gonçalo Oliveira

Gonçalo Oliveira tem 27 anos e é estudante de Doutoramento em Engenharia Mecânica. Cresceu na Paróquia de Santo António dos Olivais e foi animador do Projeto TAU durante 7 anos. Gosta de se envolver em atividades de voluntariado, estando atualmente ligado ao grupo dos Vicentinos.

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