No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.
Jo, 1, 1.14a
[…]
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós
Certamente que durante as celebrações do Natal pudemos escutar várias vezes estas palavras. E pode acontecer que, por tanto já as ter ouvido, nos tenhamos tornado um pouco insensíveis à espantosa afirmação que elas contêm.
O que se diz, no fundo, é que Deus habitou (habita) entre nós e esta afirmação, aparentemente tão banal, aponta para uma novidade radical. Habitar é muito mais do que ocupar ou estar. A simples afirmação de que Deus estaria entre nós, por si só já seria uma enorme novidade, mas dizer que habita é ir muito mais longe. Quem habita, faz seu o lugar que habita. Não está simplesmente, não ocupa só. O lugar habitado é assumido como lugar de existência, mais, como lugar querido de existência. É nesse lugar que se está por inteiro e se vive por inteiro.
Se nos detivermos um pouco a pensar o exercício de habitar, perceberemos que é a partir dele que ‘mapeamos’ a nossa existência.
É a partir do sítio que habitamos que traçamos as coordenadas que nos permitem situar no tempo e no espaço. O Norte, o Sul, e todas as outras direções são perspetivadas a partir do lugar habitado. É também a partir dele que organizamos a nossa existência e movimentação. De manhã saímos do lar que habitamos e à noite regressamos para ele. As férias pressupõem, muitas vezes, ir para outro lugar, mas no fim regressamos ao nosso lugar de habitação. Talvez este exercício nos possa ajudar a perceber, um pouco melhor, o desconforto que muitas vezes somos capazes de perceber e intuir em lugares que apenas são ocupados, mas não são verdadeiramente habitados.
Deus habita a nossa história
Dizer que Deus habitou (habita) entre nós é, pois, afirmar que ele assumiu a nossa existência e a nossa história como sendo também suas. O mundo e a história convertem-se em território de ‘mapeamento’ da sua ação, lugar a partir do qual organiza e realiza a sua ‘movimentação’. A sua presença não é fugaz, não é aparente, não é provisória, nem circunstancial, é estrutural. Habitar a nossa história é, também, a maneira como é Deus para nós e connosco.
A realidade é o lugar onde Deus se manifesta e sai ao nosso encontro

Deste modo, se quisermos ser para Ele e com Ele, não resta outra possibilidade se não encontrá-Lo no mundo e na história. O mundo, a vida, a história, são então, para os cristãos, verdadeiro lugar teológico.
A revelação tornar-se-ia mais ‘opaca’ e ‘turva’, muito menos inteligível, ao contrário do que muitos possam pensar, sem discernir os sinais de Deus, os sinais dos tempos, na vida e na história. Sem o diálogo com o mundo, a história e a vida, ficaríamos privados de alguns dos elementos estruturantes da nossa fé.
A dinâmica da encarnação descarta a possibilidade de que possamos viver a experiencia de encontro com Deus desde o alheamento do concreto da história. Isso supõe a disponibilidade para assumir uma existência que procura ver e escutar a realidade como lugar onde Deus se manifesta e sai ao nosso encontro.
Em 2019, seremos chamados a intervir, através do nosso voto
Estamos a começar o ano de 2019. Certamente que neste início todos temos projetos traçados e estamos com vontade de os concretizar. Também vamos tendo uma consciência mais clara da necessidade de tomarmos certas decisões enquanto comunidade.
A esse propósito é bom não nos esquecermos de que seremos chamados, em várias ocasiões, a intervir através do nosso voto.
Como comunidade cristã somos, igualmente, conscientes de que temos de ensaiar caminhos de abertura que nos permitam estar presentes naqueles lugares e instâncias onde estão a ser forjados os novos paradigmas que irão marcar a nossa existência.
Habitar o ano de 2019 torna-se, assim, uma urgência. Não basta passar por ele, temos mesmo de o habitar, fazê-lo nosso, para nele podemos continuar as rastrear todos aqueles sinais que nos falam da presença de Deus e o podermos abrir a outros horizontes.
A experiência cristã de Deus que somos chamados a fazer neste 2019, tem de ser uma profunda experiência humana e humanizadora que habite verdadeiramente a história real na qual vivemos.
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