Gabriel, o meu conforto

A Palavra de Deus

Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem
chamado José, da descendência de David. O nome da Virgem era Maria.
Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo”. Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o Anjo:
“Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono do seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim”…
Maria disse então: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Lc 1, 26-38

A palavra de Santo António

Gabriel significa “Deus é o meu conforto”.

É costume confortar sobretudo três espécies de pessoas: o enfermo, o desanimado e o tímido.
Desde Adão, o género humano estava doente e não encontrava remédio algum; estava triste pela falta das delícias do paraíso; temia o diabo, que o flagelava.
Mas, graças a Deus, foi enviado o Anjo Gabriel, conforto para a alma sedenta, água fresca e saudável sabedoria.

“Cheia de graça, o Senhor está contigo”.

Ouvindo isto, perturba-se por pudor, por temor. É bela esta mistura de pudor e temor.

“O Espírito Santo virá sobre ti”.

Criou da carne da Virgem, no seu ventre, o corpo do Redentor.

Disse Maria: “Eis a escrava do Senhor”.

Confessa-se sua escrava, lembrada em tudo da própria condição e do favor divino.

“Faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Jesus veio, sendo a Virgem Santíssima que o deu à luz. Veio visitá-la, habitar nela e dela assumir a carne.

Sermões de Santo António, Festa da Anunciação de Maria

Aprofundemos

Um anjo: Gabriel; uma saudação: “O Senhor está contigo”.

Maria medita nas Escrituras e entende que a visita dum anjo e uma saudação deste género anunciam, como para Gedeão, Sansão, Samuel e David, uma missão extraordinária de Deus.

Mas, porque apareceu a Maria, uma mulher humilde que ama José, que ora a Deus na casa de Nazaré e que não aspira a nenhuma grandeza? A sua beleza é inteiramente interior: é cheia de graça, amada pelo Senhor, rica de todos os dons do corpo e do espírito, porque, como nos ensina a fé cristã, Deus a escolheu desde toda a eternidade para dar ao seu Filho uma carne humana e, de invisível, torná-lo visível e irmão de todos os homens. “A minha alma glorifica o Senhor; o Todo-poderoso fez em mim maravilhas!” (Lc 1,46-49)

Assim como entre os anjos, Miguel é o príncipe e Rafael o médico, Gabriel é o mensageiro que traz a maior e mais bela notícia a Maria e à humanidade: “Darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados” (Lc 1,31; Mt 1,21).

Em Fátima, um Anjo da guarda e a Virgem Maria trouxeram uma nova mensagem de conforto para os enfermos, desanimados e temerosos do nosso tempo.

Diante de uma pandemia que parece não ter fim, as instituições e os voluntários, animados pela fé e pelo amor aos irmãos e irmãs, multiplicaram as suas iniciativas em favor dos doentes mais graves, informando e protegendo da infeção. Perante a indiferença de muitos, outros preocupam-se em acolher as vítimas das guerras, da violência e da fome, mitigando as humilhações físicas e morais das minorias perseguidas, para defender os inocentes e os mártires da fé.

Nós também, diz António, somos Anjos quando sabemos perdoar o irmão que nos feriu, quando sabemos consolá-lo se ele estiver triste e encorajá-lo quando é perseguido.

Foto da capa: Anunciação do anjo Gabriel a Maria. Óleo sobre tela de Annibale Carracci, sec. XVI, Pinacoteca Bacional de Bolonha. Commons Wikimedia.

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