Com o título “Futuros Globais” a Universidade Católica Portuguesa propõe um ciclo de conferencias, enquadradas no âmbito das celebrações dos seus 50 anos de existência, com as quais pretende refletir sobre os desafios que se levantam à sua missão nos próximos tempos.
A oportunidade e importância desta iniciativa parece-me clara num momento em que, nas mais diversas latitudes, parecem despontar sinais preocupantes que nos levam a pensar sobre o futuro que estamos a construir.
Julgo que é evidente para todos que estamos num momento crucial, no qual somos convidados a tomar decisões. As coisas não podem continuar a ter o mesmo rumo. Se não fizermos nada, se não invertermos certas direções, se deixarmos que o individualismo prevaleça, então, em vez de cada um poder viver melhor, julgo que acabaremos todos por viver pior.
Se não invertermos certas direções, acabaremos todos por viver pior
E esta realidade, que não quero descrever em tons pessimistas, mas que não posso ignorar, tem muito a ver, também, com a maneira como aqueles que nos dizemos cristãos vivemos e testemunhamos a nossa fé.
Não tenho dúvidas de que estamos, neste momento, a decidir e construir o nosso futuro. O que formos capazes de fazer, ou não, agora, terá consequências depois. Por isso, o papel das Universidades pode ser, e é, tão importante.
O futuro depende das crianças e jovens que formos capazes de deixar a esse mesmo futuro
A este propósito, vem-me à memória o Prefácio do já longínquo Relatório Mundial da Educação, do ano de 1998, no qual se afirma que o futuro que quisermos deixar às nossas crianças e jovens dependerá, em grande medida, das crianças e jovens que formos capazes de deixar a esse mesmo futuro.
O que já parecia ser uma evidência naquela altura, tornou-se, agora, uma realidade incontornável. Temos mesmo que formar as novas gerações de um modo diferente, para sermos capazes de construir um futuro diferente.
Os futuros, sendo plurais, não podem deixar de ser globais
Sei bem que os itinerários para a construção desse futuro são diversos. Sei também que, em bom rigor, não podemos falar de um único futuro, mas de vários, tal é a complexidade da vida humana, que implica a inevitável procura de concretizações múltiplas. Mas se esses futuros não podem deixar de ser plurais, também não podem deixar de ser globais, ou seja, o seu objetivo é serem para todos, de modo que ninguém fique excluído, nem se torne excedente.
Se um futuro único não pode incluir todas as pessoas, então que sejam vários, de tal modo que, sendo vários, se possam tornar verdadeiramente globais, incluindo todas as pessoas.
Na conferência inaugural do ciclo, tive a oportunidade de escutar o Magno Chanceler da Universidade Católica Portuguesa, D. Manuel Clemente, o qual, num momento de diálogo, partilhou com os ouvintes o contributo decisivo e indispensável que, segundo ele, o pensamento social cristão é chamado a dar neste momento.

As metas da Universidade Católica: promover a dignidade humana e a procura do bem comum, através das dinâmicas da solidariedade e da subsidiariedade
Estou de acordo com a sua análise. No protagonismo que é chamada a ter na construção destes futuros globais, a Universidade Católica não pode esquecer algo de verdadeiramente fundamental que está na sua génese e marca a sua identidade. O conjunto de saberes, que nela são cultivados, deve desenvolver-se tendo sempre bem presente que as suas metas, iluminadas pelo Evangelho, são a promoção da dignidade humana e a procura do bem comum, através das dinâmicas da solidariedade e da subsidiariedade. Procurar promover a dignidade e o bem de todos, o melhor bem de todos, dando lugar a todos e a cada um, prestando atenção ao todo e a cada parte, é a missão que é chamada a realizar. Estes princípios fundamentais e estruturantes do Pensamento Social Cristão constituem-se, então, como os pontos cardeais a ter presentes no traçado de todos os seus itinerários de investigação, reflexão e ação.
As comunidades cristãs não se podem fechar sobre si mesmas, como espaços de conforto e segurança para os seus membros
Essa tem de ser, igualmente, a marca das comunidades cristãs, na resposta aos desafios que neste momento se levantam. O tempo que estamos a viver está a exigir-lhes esse protagonismo. Elas não se podem fechar sobre si mesmas, como espaços de conforto e segurança para os seus membros. O tesouro que transportam, em ‘vasos de barro’, não é só delas, nem só para elas. É um dom de Deus para toda a humanidade, um dom indispensável para a construção de futuros que possam ser verdadeiramente globais.
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